Saber o que se quer é bom, mas saber o que não se quer é melhor ainda.
Malas feitas, partimos. Cheios de planos, objetivos traçados, ideias feitas. Mal sabemos que quando chegarmos ao nosso destino temos tudo, menos uma linha para seguir. É até engraçado quando recordo dos meus pensamentos quando cheguei em Portugal, perceber todos os acontecimentos e hoje ver que muita coisa mudou. Claro, a vida não é linear, não acontece no tempo que a gente julga ser o ideal, a realidade se apresenta de outro modo e o farol que pode nos guiar nem sempre é fácil de ser encontrado.
Não são raras as vezes que queremos que tudo se resolva com o estalar dos dedos, mas a vida teima em ser do jeito dela e nós acabamos pagando o pato. Sempre foi assim e sempre será. Por mais que a nossa vontade (e até instinto) nos empurre para o velho hábito de ter tudo planejadinho, na ponta da caneta ou no bloco de notas do celular, a vida vai andando e nem sempre entra pela porta que julgamos ser a melhor.
O que queremos?
Ok, se você nunca se fez essa pergunta, talvez seja uma boa hora. Diariamente me questiono e penso: o que eu quero da minha vida? – levo bastante tempo para responder, enrolo e em quase todos os casos não respondo. Porém, apesar de eu não saber direito o que quero da minha vida, eu tenho plena certeza do que eu não quero e, sendo assim, acho que já fiz 50% da tarefa de casa. É um jogo de eliminação, tipo aquele Cara a Cara da Estrela, onde você diz o que não quer e assim chega onde quer.
Perguntas sem resposta
Quando decidimos que morar fora por um tempo é o nosso plano de vida, voltando ao velho e já citado hábito, caímos na maldita tentação de querermos adivinhar o futuro, de pegarmos uma bola de cristal e termos todas as respostas. Em vão. Faremos milhões de perguntas e, na maioria do tempo, não encontraremos sequer pistas das respostas que tanto queremos. Aquele emprego não vai dar certo, o amigo vai voltar para o Brasil, a colega de apartamento não entende muito de sentimentos e, assim, seguimos a vida cheios de perguntas e sem encontrarmos respostas.
“Quando você volta?”
Sempre que falamos com os amigos e parentes que ficaram essa pergunta aparece: “e aí, quando você volta?” – aqui entra o subtítulo do texto. Saber o que se quer é bom, mas saber o que não se quer é melhor ainda. O “NUNCA” em caixa alta vem com vontade, ele ganha força todos os dias, ele se fortalece na luta que travamos com nós mesmos para não deixarmos a saudade nos sufocar, ele está preso entre os pulmões e as cordas vocais, ele quer mostrar que somos fortes. Mas somos seres pensantes e com a polidez que nos foi forjada respondemos com um apenas “ah, ainda demora um pouquinho”.
Voltar não está nos planos
Para os amigos e familiares que ficaram, há sempre uma suposta certeza: a de que, mais cedo ou mais tarde, voltaremos. Será?! Claro que se você pensou em passar somente um tempo fora, um dia a sua hora de voltar vai chegar. Porém, é necessário saber que muitas pessoas, quando decidiram morar fora, colocaram na mala o potinho do “para sempre”. Pode ser que numa dessas viagens a tampa desse potinho se abra, o “para sempre” escape e sejamos forçados a voltar, mas acredite: nossos perrengues aqui fora são a apertadinha na tampa do pote diariamente.
livro “Morar Fora: sentimentos de quem decidiu partir”
Onde isso vai dar?
Quem disse que precisa dar em algum lugar?! Quem disse que queremos que dê?! Lembre-se que nós que moramos fora queremos o SER e não o TER, nós sabemos que a vida não tem receita, que ela passa rápido demais e que é preciso caminhar. Se o trabalho não está bom a gente procura outro. Se o dinheiro está curto a gente se vira, mas não perde o rebolado. Temos certeza do que não queremos e focamos o nosso pensamento, todos os dias, para tentarmos descobrir o que queremos. Uma coisa é certa, nós jamais voltaremos a ser quem éramos antes da vinda e, por aqui, se tudo der errado a gente faz uma amizade, se apaixona, conhece uma cidade maravilhosa e tira umas fotos maneiras.
Se vai dar certo ninguém sabe, mas quem precisa saber?!
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*Cláudio Abdo publica textos sobre a experiência de morar fora todas às segundas e quintas aqui no site Vagas pelo Mundo.