Morar fora pode comprometer a sua segurança interna, fique atento. Saiba como manter a autoestima durante o processo migratório.
Já ouvimos tanto falar sobre autoestima que esse virou um tema um tanto obsoleto, mas acredito que neste início de ano precisamos refletir um pouco sobre esse assunto. Morar fora tem se tornado um verdadeiro pesadelo para muitos imigrantes e aquilo que parecia ser sensacional, talvez esteja deixando de ser uma opção. A decisão de colocar o pé na estrada exige de nós um olhar mais atento às nossas próprias necessidades e fragilidades, sem nos enxergarmos no processo estaremos fadados ao desequilíbrio emocional.
Autoestima durante o processo migratório
Certamente você já ouviu muitos conceitos sobre a autoestima e ela nada mais é do que a forma como nos enxergamos, seja positivo ou negativo. É um valor que atribuímos a nós mesmos, considerando as áreas físicas, emocionais, intelectuais, dentre outras.
Ela é construída ao longo da nossa vida, de acordo com as experiências que vivemos, pelos lugares que passamos, pelas pessoas que nos relacionamos e pelas circunstâncias que nos colocamos.
Tudo o que vivemos no passado e o que estamos vivendo no presente, tem um alto poder de fortalecer ou enfraquecer a forma como nos vemos, sentimos e nos percebemos. Se você já decidiu morar fora, já se deu conta que a cultura a qual você está vivendo influencia diretamente o seu jeito de ver, sentir e existir.
Se você está pensando em arrumar as malas para colocar o pé na estrada, já pode perceber como seus familiares e amigos têm uma influência diante da sua decisão de partir.
Na última semana falamos sobre como podemos perder a nossa identidade ao longo do nosso processo migratório, se você ainda não leu esse texto, deixo aqui um convite para essa reflexão. Morar fora é uma realidade que nos convida a nos reconfigurarmos, a olharmos para quem éramos e decidir quem desejaremos ser.
Isso não tem relação nenhuma com transtorno de personalidade ou com bipolaridade, mas com as mudanças intrínsecas a qualquer mudança, em especial ao processo migratório. A depender de como foi construída a sua autoestima, talvez a vida no exterior possa te ajudar a ser um ser humano ainda mais evoluído, permitindo com que você acolha o diferente, que enxergue as coisas por um novo prisma e simplesmente que possa flexibilizar diante de tudo aquilo que não pode ser mudado.
Se ao longo das últimas décadas você viveu relacionamentos abusivos, cresceu em um lar tóxico, trabalhou em circunstâncias degradantes e se tratou com desrespeito, talvez o colocar o pé na estrada te trará muitos confrontos internos.
O que realmente é essencial na sua vida?
Não deixe de acreditar na sua capacidade e no seu merecimento
Ao nos afastar de quem éramos, perdemos algumas referências, tanto de quem desejamos nos parecer, quanto de quem não buscamos ser semelhantes. É na ausência desta realidade que podemos nos perder, ou seja, passamos a desconfiar do nosso próprio potencial, deixamos de acreditar na nossa capacidade e entramos em um espiral sem fim de desvalor.
Ou seja, parece que nada do que fazemos merece ser elogiado, reconhecido ou valorizado, afinal de contas, desenvolvemos a crença de não merecimento e todos aqueles que se comportam de forma contrária ao que eu penso, estão enganados sobre mim.
Certamente você já percebeu que as pessoas ao seu lado possuem uma alta dificuldade em reconhecer suas forças, competências e brilhantismo. Com a ausência deste tipo de reconhecimento, tendemos a nos sentir carentes e vulneráveis emocionalmente, nos colocando em uma constante busca de aprovação e validação externa, nos transportando assim para o lugar de reféns, pois esperamos que os outros nos lembrem que somos capazes.
Quando moramos fora essa realidade pode ser vivida de forma exagerada, imagine comigo a situação, longe de tudo e todos, distante da sua zona de conforto, descrente de possibilidades concretas de futuro e ainda por cima, sozinho… Esse é um prato cheio para termos a nossa autoestima comprometida e desintegrada.
Liberte-se de atender as expectativas dos outros.
Como voltar a ter autoestima durante o processo migratório
Se você sente que sua autoestima se comprometeu ao longo do seu processo migratório, aqui vão algumas sugestões para você reaver o seu relacionamento com ela:
- Foque no autoconhecimento, entenda quem você é e do que é capaz;
- Realize uma análise Swot da sua própria vida (seus pontos fortes, fracos, ameaças e oportunidades);
- Afastes-se de relacionamentos que não sabem reconhecer o seu valor e minam a forma como você se enxerga;
- Não se sinta a última bolacha do pacote, estamos em constante evolução, encontre suas maneiras de evoluir;
- O mesmo exercício que você faz para não acreditar em você, é o mesmo no sentido contrário, esforce-se;
- Monitore seus pensamentos, conduza seus comportamentos e revela suas emoções, essa tríade precisa estar alinhada;
- Faça atividade física, você vai se dar conta do quanto precisa melhorar;
- Consulte um psicólogo, tem coisas que você não conseguirá enxergar por estar muito envolvido no processo;
- Desista de achar que as pessoas lhe devem alguma coisa, elas estão ocupadas demais;
- Por fim, aprenda a acolher suas fragilidades.
Essas proposições acima parecem triviais, mas são muito poderosas e se você já tentou colocá-las em prática, percebeu que nenhuma delas é fácil. Tire um tempo para você, fique em silêncio, se afaste das pessoas e se avalie. Morar fora é uma vivência poderosa demais para ser desperdiçada, então já que escolheu colocar o pé na estrada, valorize sua escolha e seu livre arbítrio. Nem tudo será conforme imaginamos, mas talvez estejamos esquecendo que ter uma atitude contemplativa diante da vida torna qualquer jornada inspiradora.
Instabilidade emocional pode comprometer seu plano migratório.
Fortaleça sua autoestima diariamente
Se você ainda não colocou o pé na estrada e pensa em morar fora, sugiro que inicie um trabalho forte de fortalecimento de autoestima. Busque compreender quem você é, o que está fazendo, o que deseja fazer e o que não deve se envolver. Às vezes queremos tanto uma coisa, que não consideramos as consequências e efeitos colaterais.
Pensar com carinho sobre tudo aquilo que queremos, merecemos e precisamos, é fundamental para que você tenha uma experiência migratória favorável e saudável.
Nossa autoestima única e merece ser tratada com muito carinho e amor, não espere que as pessoas te tratem com prioridade, se nem você tem feito isso por você mesmo. Chega de esperar, chega de delegar aos outros, chega de não assumir as próprias responsabilidades pela forma como você se sente.
Leia também: Morar fora: a jornada de quem não pode fracassar.
*Caso você deseje me acompanhar pelas redes sociais, sugerir novos conteúdos e conferir mais dicas como essas, acesse o meu Instagram. Fale comigo também pelo WhatsApp.*Ouça também o Podcast Partiu Morar Fora, disponível no Spotify: