
A vida no exterior nos tira tantas coisas que para compensar nos valorizamos de modo exagerado. Talvez você não seja tão importante assim.
Só quem já colocou o pé na estrada para viver em uma outra cultura sabe o perrengue que é viver longe da própria terra. São tantos desafios ao morar fora que muitas vezes não podemos nos considerar mais e isso tem uma relação direta com nossos lutos migratórios. Comportamento é que nos conduz a buscar nutrição nos outros para fugirmos da solidão, não pertencimento e do silêncio que insiste em gritar em nossa mente.
Talvez você não seja tão importante assim
Morar fora de modo bem-sucedido exige um conjunto de fatores; inteligência intercultural, flexibilidade, paciência, respeito à diversidade, tolerância ao que não concordamos. Abertura ao novo, consistência para superar os problemas, força para resistir às tempestades e acima de tudo, vontade de fazer acontecer.
Certamente você possui alguns desses e está ciente de que precisa trabalhar outros para se sentir bem longe de casa. Há quem reclame de onde escolheu viver e há quem seja grato pela oportunidade de estar no exterior, seja onde for.
Dependendo de onde você partiu, das assistências emocionais que recebeu e do desenvolvimento pessoal que alcançou, você se relacionará de maneiras diferentes com as pessoas ao seu redor. Os que tiveram cuidadores omissos, amigos superficiais e viveram em lugares ricos em insegurança emocional, tenderão a buscar noutra uma validação para sua existência.
Aqueles privilegiados que desfrutam em ambientes pacíficos, com atenção, amor e cuidados, têm maiores chances de se relacionarem com os outros sem sobrecarregar as relações. Entendendo que nem tudo é tão linear assim, mas essa exemplificação vai me auxiliar no próximo ponto que desejo conversar com vocês.
Encontrando respostas no silêncio ao morar fora
Tão importante assim: Falsa sensação de relevância
Certamente você conhece alguém que se acha muito importante sem ser e também deve conhecer alguém que é realmente importante e tem a plena verdade disso. A diferença entre elas é a forma como lidam com a importância, seja ela conquistada ou fantasiada.
Os que são de fato compreendem que não devem utilizar-la ao bel-prazer, mas sim para fazer a diferença neste mundo tão desafiador que estamos vivendo. Aqueles que acreditam piamente que são, sem ser, enfrentam desafios clássicos longe de casa e dentre eles estão:
- Acreditam que a todo tempo precisam ser validados;
- Pense que as pessoas em volta precisam concordar com seus pensamentos;
- Possuem a crença de que o que fazem é correto e que todos em volta estão enganados;
- Esperam reconhecer as atitudes mínimas até aos maiores e se chateiam quando isso não acontece;
- Se algo aconteceu e nenhum comunicado chegou, parece o fim do mundo;
- Não tolerem não participar de decisões ou estar por dentro dos bastidores;
- Por fim, acredito realmente que são essenciais para o funcionamento dos processos e que sem eles nada será possível.
Talvez agora você esteja pensando, “nossa, eu me identifiquei tanto, será que sou realmente assim?”. Essa é uma sensação comum, nos identificaremos com certos comportamentos e acreditaremos que agimos de tal forma. Mas lembra a conversa que já tivemos sobre autoconhecimento?
Precisamos nos conhecer para que ninguém nos diga que somos ou possuímos algo, sem isso ser verdade ou responsável ao momento presente. Não deixe que ninguém lhe diga o que fazer ou o que é melhor para você, aprenda a entender quem você é e de que forma você pode encontrar sua melhor versão no mundo.
Qual foi a última vez que você se sentiu cuidado no exterior?
Se tornando realmente importante
Entre o ser e o parecer, hoje resolvi trazer alguns caminhos possíveis para que você possa realmente ser alguém importante no seu mundo e nos mundos ao seu redor. Preciso confessar, que assim como vocês, eu também estou cansado da sociedade do espetáculo, onde não há espaço para tristeza, ansiedade, estresse, depressão, desânimo, cansaço e preguiça.
Estamos longe da perfeição e quanto mais rápido aprendermos a acolher quem somos e o que estamos nos tornando, mais rápido alcançaremos a plenitude que tanto desejamos viver.
No consultório sempre ouço meus clientes questionarem como ser realmente importante e quando decidimos morar fora parece que essa realidade fica cada vez mais distante. São tantas coisas fora do nosso controle, tantos problemas sem soluções e quando não é uma coisa, é outra, aff, só de pensar a gente já cansa.
A real é que a vida no exterior é bem mais difícil do que a nossa existência na nossa cultura de origem, onde não precisamos lidar com vistos, passaportes, desafios migratórios e essa eterna ameaça a que somos expostos diariamente, seja você documentado ou indocumentado.
Você não se sente pertencente ou não quer pertencer a cultura local?
Buscando respostas no exterior
No final do auxiliar nesta jornada em busca da importância verdadeira para você e para aqueles à sua volta, aqui vão algumas orientações:
- Se você não se conhecer, não saberá como contribuir;
- Olhe em volta e compreenda as necessidades do ambiente, isso lhe ajudará a compreender como intervir;
- Identifique seus dons e talentos, isso fortalecerá sua relevância onde quer que você se sinta;
- Seja disponível e seja flexível, essa combinação será poderosa para abrir caminhos e não fechar portas;
- Não vale saber muito e compartilhar um pouco, esconder o jogo não agrega valor;
- Generosidade é sempre encantadora, em qualquer lugar do mundo;
- Não leve nada para o pessoal, pois as pessoas estão fazendo o melhor que podem;
- Quando se sentir sobrecarregado se dê um tempo;
- Não cobre atenção e validação das pessoas, isso simplesmente acontece;
- Cuidado para não atrair atenção negativa com comportamentos infantis;
- Por fim, reconheça suas motivações, elas revelarão o que interessa ao seu coração.
Como lidar com as partidas no exterior: como anda sua rede de suporte?
Estamos juntos na jornada de morar fora
Reconheço que esse não é um assunto fácil quando falamos sobre ser tão importante assim, mas se olharmos direitinho para a vida ela nos convida a reflexões difíceis. Sempre quando escrevo para vocês buscarem avaliar minha própria vida e verificar de que forma o assunto escolhido me atravessa.
Os temas surgem de minhas experiências no exterior, enquanto psicólogo de imigrantes e estudo das relações humanas de brasileiros que decidiram morar fora.
Cada palavra é pensada para que você possa refletir sobre sua própria vida e redefinir suas rotas longe de casa, independente do momento em que você se encontrar. Não importa o que aconteça, ninguém solta a mão de ninguém, estamos juntos!
Leia também: Perdas no exterior: como conseguir se reorientar e aguentar
*Caso você deseje me acompanhar pelas redes sociais, sugerir novos conteúdos e conferir mais dicas como essas, acesse o meu Instagram. Fale comigo também pelo WhatsApp.