Quando resolvemos morar no exterior estamos fadados a combater inimigos.
A gente não sabe disso, mas quando decidimos morar fora, estamos fadados a perder muito tempo combatendo inimigos. E eles são de todos os tipos, de vários tamanhos, visíveis, transparentes, barulhentos ou silenciosos. No começo da nossa jornada já damos de cara com a burocracia, depois teremos que dar um espaço na nossa cama para a ansiedade e, mais ali na frente para a saudade.
Largar o certo e mergulhar no duvidoso é para quem tem coragem. Abrir mão da família, aprender a conviver com a distância, enfrentar todos os tipos de medo que existem, aprender um novo idioma e recomeçar do zero é para quem tem espírito forte. Não é fácil, vou repetir em voz alta: NÃO É FÁCIL. A vida de quem “se jogou” para o mundo é complicada e, muitas vezes, requer um rebolado que a gente nem sabe que possui.
Aquela ideia de que morar fora é a coisa mais deliciosa do mundo pode, muitas vezes, esbarrar no muro da depressão. Muito mais comum do que você imagina, existe uma galera que foi morar fora e que não conseguiu se adaptar de jeito nenhum.O clima diferente, a língua, a falta dos amigos, a família longe, a dificuldade em encontrar um emprego e todos os “poréns” que a gente encontra pela estrada são um fardo pesado de se carregar.
E quando a deprê bate, ela chega chegando e derruba a porta mesmo. Ainda hoje conversei com uma pessoa que, por opção, veio morar fora e não está aguentando. Nós conversamos durante alguns minutos, mas foi suficiente para ela me dizer que vai voltar. Vai voltar porque é muito frio, porque chove demais, porque ela achou que morar fora era uma coisa e é totalmente outra. Já ouviu falar em quebra de expectativas?! — pois é, a tela da realidade geralmente é bem mais dura do que o nosso imaginário costuma pintar.
No pouco tempo em que conversamos, só pude tentar acalmá-la e dizer que a dureza que ela está sentindo e enfrentando, eu, você e todos nós que decidimos partir também, em algum momento, já passamos. Não está sendo fácil para ela, mas também não foi nada fácil para mim e, creio eu, para você também foi penado. Morar fora é, sem dúvida, uma experiência intensa e uma estrada cheia de curvas e, por vezes, perigosa.
Não acredito que quem não se adapta aqui do lado de fora seja fraco, muito pelo contrário. Admiro quem tem coragem de sair da zona de conforto e enfrentar seus medos. Tenho um respeito violento por quem resolve abraçar o mundo de peito aberto e tenta recomeçar. Independentemente da idade, tentar (e vir) morar fora é um desafio e um filme digno de prêmio e reconhecimento.
Aqui, do lado de fora, a gente vai aprendendo a lidar com os nossos inimigos silenciosos e a depressão é apenas mais um deles. É difícil, as paisagens não parecem tão belas e os lugares que, antes encantavam, parecem agora ter desaparecido. A gente se sente mal, a gente se depara com a saudade, a gente apanha de nós mesmos e só pensa em voltar. Nós precisamos voltar, necessitamos de ombro amigo, queremos o carinho e o amor dos nossos familiares.
Se você está perdendo a batalha contra a depressão, procure ajuda. Na maioria das vezes a vontade é de ficar no escuro sem ninguém por perto, mas morando fora isso pode ser um erro elevado a décima potência. Se voltar for inevitável, volte. Mas volte com orgulho, volte com a certeza de que você, ao menos, tentou e não sinta vergonha de não ter aguentado. Uma coisa é certa, você voltará uma pessoa totalmente diferente e que já conhece seus inimigos, mesmo que eles sejam silenciosos. Pode acreditar!
1 comentário
Meu maior medo de ir morar fora é isso, de ter que voltar por não aguentar a pressão. Mas se eu não tentar como vou saber se consigo ou não. Tenho lido seus textos e sei que as dificuldades existem já sinto depressão aqui, com família, amigos, um bom emprego e todas as outras coisas que uma vida monótona te proporciona, mas quando o lugar que você está já não lhe deixa feliz, porque não mudar, tentar algo novo, o que costumo dizer é: ” o não você já tem e o se fodeo também”, então precisamos sair da zona de conforto.