Não respeitar as diferenças fala mais sobre nós do que aqueles os quais não conseguimos lidar e acolher. Intolerância no contexto migratório, como lidar.
Morar fora nos coloca em contato direto com tudo aquilo que é diferente e pouco familiar, realidade essa que pode nos gerar ansiedade, insegurança, medo, angústia, estresse e comportamentos os quais expõe nossa fragilidade e pontos sensíveis.
Não é segredo que a grande maioria dos brasileiros que decidem colocar o pé na estrada são vítimas de intolerância de todas as ordens e xenofobia, realidade essa que pode comprometer a saúde mental daqueles que sofrem tais práticas e se não soubermos proteger nossos sentimentos e emoções, tenderemos a comprometer o nosso plano migratório.
Intolerância no contexto migratório
Para que possamos estar juntos na linha de raciocínio, precisamos compreender o que é xenofobia, desta forma não nos perderemos no meio do caminho, tampouco teremos a chance de interpretar tudo ao contrário.
Quando falamos do comportamento xenófobo, estamos nos referindo a condutas que têm como base central o medo ao estrangeiro, a tudo aquilo que é estranho, desconhecido e que de alguma forma, consideramos tal realidade como ameaçadora, circunstância essa que nos conduz a agir de modo irracional, hostil, com ódio e intolerância.
Muitas vezes nos comportamos de maneira xenófoba sem nos darmos contas, como por exemplo: fazer piadas do sotaque do seu amigo, fazer julgamentos de alguém baseada no local onde ela nasceu, elaborar conceitos de acordo com a cultura do outro, proferir xingamentos alicerçados na localidade.
Demonstrar algum comportamento de superioridade diante daqueles que são estrangeiros, tecer comentários estereotipados, discriminatórios e desumanizantes, restrição de direitos e serviços públicos, ameaças, violência pública e intimidações.
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Entenda alguns motivos da xenofobia
Quando nos debruçamos sobre os estudos que se dedicam a compreender o ódio aplicado ao estrangeiro, chegamos a algumas causas surpreendentes:
- Um medo irracional de perder o status social e a própria identidade;
- Só a ideia de que o sucesso econômico seja comprometido pela presença do estrangeiro e que os postos de trabalham sejam todos ocupados por eles;
- Uma forma de fazer prevalecer a identidade nacional e todos os limites inerentes a esse processo, principalmente em momentos de crise;
- Quando olhamos para o outro e acreditamos que somos melhores do que eles;
- Baixo conhecimento intercultural, ou seja, quando sabemos muito pouco ou quase nada sobre o estrangeiro.
Segundo Ángeles Cea D’Ancona, professora de Sociologia na Universidad Complutense de Madrid, existem dois pontos centrais do discurso xenófobo: “defenda a sua identidade” e “defenda os seus direitos”.
Ela completa dizendo que essa ideia de que todos aqueles que chegam em nosso país podem corromper a identidade local e ao tomarem para eles os direitos individuais, automaticamente estaria extraindo essa condição de todos os nacionais.
Essa realidade se agrava principalmente quando os contextos socioeconômicos estão vulneráveis, como por exemplo em crises climáticas, migratórias e recessão econômica, o que eleva o número de desemprego, escassez de vagas em escolas públicas, leito de hospitais, dentre outros agravamentos.
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Saúde mental em risco
Aqueles que decidiram morar fora e estão expostos a circunstâncias de intolerância e xenofobia, podem sofrer de ansiedade, depressão, sintomas fóbicos, fobia social e agorafobia, agravando assim o desequilíbrio emocional que a maioria dos imigrantes vivenciam ao redor do mundo.
Alguns comportamentos como; má adaptação à cultura local, pouca identificação com a comunidade nacional, baixa disponibilidade para interações sociais e participação em programações culturais e pouco interesse em pertencer onde se está, podem refletir alguns comportamentos inconscientes de proteção, a fim de evitar episódios xenófobos.
Aqueles que já tiveram o desprazer de vivenciar algum episódio de xenofobia, carregam consigo algumas cicatrizes que o tempo não pode apagar. A depender do nível de autoconhecimento que esse imigrante tenha, a ressignificação desta realidade pode levar mais ou menos tempo.
Se os episódios xenófobos são constantes e diários, a depender da vida social, profissional e familiar que se tenha, algumas medidas devem ser tomadas para que possamos preservar a nossa saúde mental e bem-estar.
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Xenofobia: Estratégias para preservar a sua Saúde Mental
Quando tomamos a decisão de morar fora precisamos ter a clareza e a ciência que estaremos expostos a episódios de algum tipo de intolerância e xenofobia. Essa realidade não deve ser um motivo para desistirmos do nosso plano migratório, de retroceder aquilo que imaginamos para nossa vida, tampouco nos perdermos ao longo do caminho.
Ter o conhecimento que algumas realidades são inerentes à jornada migratória e que existem estratégias para podermos preservar a nossa saúde mental, te auxiliará a trilhar um caminho saudável emocionalmente e acima de tudo, continuar alinhado ao seu propósito existencial.
Foi pensando nisso que reuni algumas orientações para você preservar a sua saúde mental diante de realidade xenófobas:
- Fortaleça o seu autoconhecimento: compreender quem você, o que está fazendo e suas razões, lhe auxiliarão a manter-se firme no que desejas e precisa ser feito;
- O que te trouxe até o exterior? Ter a clareza dos seus objetivos e metas aumentam suas chances de se conectar ao que é essencial e necessário, dando importância ao que verdadeiramente importa;
- Compreender seus limites é uma habilidade necessária, por vezes nos expomos a situações delicadas e isso nos incomoda bastante, então precisamos saber o que damos conta e qual o momento ideal de nos retirarmos;
- Bloquear nas redes sociais: Se os episódios de xenofobia são oriundos do universo digital, precisamos lembrar que algumas redes sociais já nos possibilitam ferramentas para bloquearmos, restringirmos, excluirmos e muitas vezes, desativar comentários e fechar a conta para usuários que você permite te seguir;
- Estabeleça limites: Se no seu trabalho alguns colegas e sua liderança possuem atitudes xenófobas, busque deixar claro como gosta de ser tratado, o que te incomoda e estabeleça muito bem os limites. Por vezes as pessoas nos tratam de modo que não gostamos, pela nossa baixa assertividade de nos posicionarmos ou de sermos diretos sobre aquilo que pensamos e acreditamos;
- Entender como a xenofobia funciona, como ela pode surgir e quais as razões deste comportamento, te auxiliam a identificar situações veladas e de se proteger de circunstâncias extremas;
- A psicoterapia com psicólogos que entendam de interculturalidade pode te auxiliar a fortalecer suas emoções, compreender seus pensamentos, instrumentalizar-se para lidar com situações de intolerância e ressignificar traumas gerados por situações difíceis.
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Intolerância: Ignorância cultural
Por fim, devemos trazer à mente e ao coração que o comportamento do outro não pode definir o nosso, que comportamentos xenófobos falam mais sobre o outro do que sobre nós. A ignorância cultural é realidade e precisamos expandir nossa mentalidade para a cada dia estarmos disponíveis e flexíveis para compreendermos onde estamos e o que podemos fazer.
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