Ela pode ser o seu combustível ou o seu fardo. A escolha é sua.
A decisão de morar fora e deixar a zona de conforto não é para qualquer um, mas a pior parte, por vezes, não se resume somente na partida. O que eu estou querendo dizer é que, quando decidimos partir rumo ao desconhecido, nem pensamos muito na saudade. Ela não está ali, ela não tem espaço na mala, não encontra uma vaguinha sequer no nosso coração que transborda de ansiedade e medo.
A partida
Você não é capaz de sentir saudade do que ainda não perdeu e, na saída, tudo está ali. É a sua mãe que vai ao aeroporto se despedir de você, é o seu irmão que liga lá de longe para dar tchau, é o seu amigo que faz questão de dar um último abraço antes da partida. Parece que o tempo não anda, a espera em frente ao portão de embarque é angustiante, porém parece haver uma sensação de bem-estar generalizado, pois mesmo que você esteja prestes a chorar (se é que já não está fazendo), todos que lhe amam estão ali. É um misto de sensações, angústias que se misturam com amor. É louco demais sentir isso.
Nem a sua mala deixam você carregar, alguém sempre tem uma garrafinha de água para acalmar os mais ansiosos. Os amigos falando gracinhas e prometendo lhe visitar, sua mãe dizendo “ano que vem estou lá, de certeza” ou o olhar do seu pai lhe encorajando e nos olhos dele você consegue ler: “vai, vai que o mundo é seu. Faça o que eu não consegui fazer que, se tudo der errado, eu estou sempre aqui para lhe apoiar”.
Leia outro texto de Cláudio: Enquanto TUDO for uma desculpa, você continuará no mesmo lugar.
A chegada
Repleta de ansiedade, chegar ao novo destino é empolgante. Você está cansado mas ansioso. Está morto da viagem, mas não quer dormir. Precisa olhar tudo, experimentar tudo, caminhar, sentir o frio, comparar. Você quer (e precisa) ter a certeza de que tomou a decisão certa, que aquilo era o mais correto a se fazer e vai fazer de tudo para se confortar. É o mesmo sentimento de quando você compra algo caro e, logo que sai da loja, recebe a ligação do vendedor reafirmando que comprar aquilo foi a coisa mais certa que você fez.
A saudade
Com o passar do tempo, a saudade aperta. Ela vai e vem, tem altos e baixos, mas está sempre ali. Seja no trem que você pega para ir trabalhar, seja no desembarque da estação quando alguns músicos estão tocando uma bela canção ou até mesmo no descer do busão num dia de chuva e não tem ninguém ali para lhe dar uma caroninha salvadora.
E quando você chega em casa com fome e não tem nada para comer?! E quando precisa usar aquela calça jeans e esqueceu de lavar?! Pois é, a saudade estará ali. Ou até quando você fica sabendo que um amigo seu que estava doente faleceu e não tem o colo dos seus outros amigos para lhe confortar. É dolorido, dói e você muitas vezes cairá no choro sozinho, quieto no seu quarto, baixinho abafado no travesseiro sem querer que ninguém perceba que você está sofrendo de saudade. Pode ser que o choro chegue no momento de apreciar o pôr do sol ou até na frente do computador. Morar fora é aprender que a saudade está sempre no bolso, na mochila, na música que se está ouvindo, na foto, na paisagem, no gosto, no cheiro e no toque.
Sobrevivendo
Morar fora é assim. A saudade estará SEMPRE ao seu lado e, muitas vezes, não tem chocolate que salve. É um fardo pesado demais que, quem mora fora, precisa carregar. Mas saudade não mata, só massacra. Algumas pessoas (me incluo nelas) usam a saudade como combustível, como jato de propulsão e aproveitam a dor que ela traz para conquistar coisas que jamais seriam possíveis sem ela. É a entrega de um trabalho importante, é o reconhecimento do chefe, é terminar a tese, é encontrar um emprego, é pensar em morar em um lugar maior para acomodar os seus pais e irmãos quando eles vierem lhe visitar, é anotar as paisagens mais bonitas para levar seus amigos quando eles chegarem, é fazer uma listinha de restaurantes e baladas que você vai querer curtir com seus brothers no ano que vem.
Use a saudade
Dizem que se conselho fosse bom não era dado, era vendido, mas aproveito para lhe deixar um: use a saudade a seu favor. Não deixe que ela seja capaz de lhe limitar, não permita que ela faça morada no seu coração. Aprenda a lidar com ela, dê espaço quando for inevitável, mas não deixe a saudade fazer morada. Lembre o que lhe motiva ou lhe motivou para chegar onde você chegou até agora, jamais esqueça dos perrengues que você passou e aprenda a deixar saudade no lugar dela. Coloque limites e lembre-se: saudade não mata, só massacra.
livro “Morar Fora: sentimentos de quem decidiu partir”
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*Cláudio Abdo publica textos sobre a experiência de morar fora todas as semanas aqui no site Vagas pelo Mundo. Volte sempre!
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