Além de todas as dificuldades que a gente encontra pelo caminho, ainda precisamos escapar de quem nos suga a energia.
Aqui fora, na luta por trilhar o nosso caminho, pessoas de vários jeitos vão cruzando a nossa estrada. Claro que, nem preciso ficar dizendo, a estrada é tortuosa e as dificuldades são enormes. A vida ainda não entrou nos trilhos, parece que tudo acontece ao mesmo tempo e o jogo de cintura nunca foi tão importante e necessário. A gente rebola, conta moeda, arruma tempo para fazer coisas que jamais pensamos ou ousamos fazer. Morando fora a gente percebe que mudou, que nossos gostos mudaram, que o que não fazia tanto sentido antes, agora é essencial.
Carregar a Bateria
O tempo voa, o relógio é implacável e os dias passam na velocidade da luz. A saudade das pessoas que a gente ama é um fardo pesado que temos que carregar, mas nós carregamos e vamos nos virando. É um Skype aqui, um WhatsApp ali e em alguns minutos de uma conversa qualquer com nossos amigos ou familiares e pronto, nossa bateria se recarrega de energia e coragem para enfrentarmos o amanhã tão temido e inesperado. Aos poucos a gente vai criando mecanismos de defesa e maneiras de carregar a nossa bateria.
Desviando das Barreiras
Como eu disse antes, aqui de longe as dificuldades são muitas. É o idioma, o clima, o fator “eterno estrangeiro”, o emprego que não aparece, o apartamento ideal que é tão difícil de encontrar. Porém, além disso tudo que nós que resolvemos morar fora tão bem conhecemos, ainda existem alguns outros tipos de barreiras. Poderia dizer pessoas, mas as entendo como meras barreiras e eu explico. Certo dia, após sair da universidade, fui tomar um café com uma amiga e uma pessoa que ela conhecia surgiu no caminho e foi com a gente. Que “mala suerte” como dizem nossos hermanos argentinos.
Veja também – Morar fora: um pé lá e a vida cá
Sugadora de Energia
Tão logo sentamos, pedimos um café. Apresentações feitas, minha energia começa a baixar. A pessoa em questão reclamou de tudo, disse que não sabe o que está fazendo da vida dela, que tudo dá errado e que ainda não conseguiu se organizar. Surpreso, pergunto quanto tempo ela já mora fora e a resposta: “desde 2013!”. Pensei, mas não falei, que se em quatro anos ela ainda não conseguiu ver o lado bom de estar morando fora, talvez mais anos passem e a experiência nunca se tornará positiva. Nessas horas penso em quantas pessoas querem a oportunidade de “se jogar” e não podem e, quem tem tal oportunidade, desperdiça reclamando de tudo e de todos.
O Café mais Rápido da Minha Vida
Confesso que nunca tomei um café tão rápido na minha vida. Sou avesso a pessoas que reclamam da vida para meros desconhecidos. Acho que, por princípio, a gente deve reclamar da vida com quem nos conhece, só acho. Senti minha energia baixando, minha bateria no vermelho. Ouvi sem dizer uma palavra o que a tal pessoa dizia e, assim que pude, engoli o café, levantei, me despedi, paguei e fui embora sem olhar para trás. Meus ombros pesavam uma tonelada e o café tomado na velocidade da luz nem teve gosto.
livro “Morar Fora: sentimentos de quem decidiu partir”
Egoísmo?
Talvez seja egoísmo de minha parte, mas sou um teimoso nato e, como tal, teimo em ver a vida com bons olhos e excelentes perspectivas. Logo ao acordar, agradeço. Agradeço por ter tido a oportunidade de morar fora, de ver o mundo de um outro ângulo, de ter saúde para lutar e seguir em frente. Não tenho coragem de reclamar daquilo que tanto quis. Sim, eu quis morar fora e se não quisesse já tinha voltado. Morar fora é para os bons de espírito, para os otimistas, para os esperançosos. Os rancorosos, os “reclamões”, os chatos e pessimistas comem o pão que o diabo amassou morando fora. Por não conseguirem ver o lado bom das coisas, vivem num limbo, em uma vida que jamais entrará nos eixos, pois os tais “eixos” não são perceptíveis e estão abafados e soterrados por tanta energia negativa.
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*Cláudio Abdo publica textos sobre a experiência de morar fora todas semanas aqui no site Vagas pelo Mundo. Volte sempre!