Se você tem medo que a sua vida mude, jamais parta para um intercâmbio ou deixe os seus filhos partirem.
É do ser humano querer desbravar o mundo, conhecer novas culturas, esbarrar com outros idiomas e conviver com outras pessoas. A nossa eterna insatisfação nos move, faz com que o melhor dos mundos logo se torne monótono e pacato e haja, assim, a necessidade de encontrarmos um novo lugar, um novo mundo. É aqui que o intercâmbio pode (e vai) mudar a sua vida para sempre.
Aviso aos Medrosos
Se você tem medo de mudar o seu pensamento, se tem receio de se apaixonar, se não dorme de preocupação com qualquer coisa que seja, lhe deixo um aviso muito importante: JAMAIS FAÇA UM INTERCÂMBIO. Fazer intercâmbio, colocar a sua vida na mochila, partir para um país que você não conhece não é para quem tem medo, é para os loucos mais corajosos.
Além disso, se você tem mania que querer controlar tudo o que lhe cerca, no intercâmbio você corre o risco, diariamente, de juntar 30 pessoas desconhecidas num churrasco em menos de uma hora, de ter que dar uma intérprete numa conversa qualquer, de dar de cara com o amor da sua vida e ter que fazer a coisa mais difícil do mundo: sair da sua zona de conforto.
Aos Corajosos
Como já disse, fazer intercâmbio é para quem tem coragem. Coragem de enfrentar o novo, coragem de dividir a casa com estranhos, coragem de se virar em outro idioma, de pegar dinheiro emprestado de um gringo, de acordar num lugar estranho depois de uma noite regada a cervejas de todos os tipos.
E sabe por quê tem que ter coragem?! Porque os estranhos que dividirão a casa, e até o quarto com você, poderão se tornar os seus melhores amigos. Porque um estranho que fala outro idioma, ou até pode ser um brasileiro de uma cidade que você nem faz ideia de onde fica, poderá se tornar o seu namorado ou sua namorada e quem sabe você farão planos juntos.
Porque o idioma difícil vai se tornar fluente, porque aquela casa estranha onde você acordou de ressaca pode ser a sua próxima morada.
Partir para um intercâmbio é ter coragem, é ter vontade de ver o mundo de uma outra perspectiva, é abrir o coração para que estranhos o habitem.
Aos Pais
Se você é pai ou mãe e o seu filho está ajeitando as coisas para partir para um intercâmbio, você tem duas opções. A primeira é não deixá-lo ir em hipótese alguma e fazer com que a sua menina ou o seu garoto continue dócil, que acate suas ordens sem pestanejar e que seja um ser controlável.
A segunda (e que acredito ser a ideal) é deixar o seu moleque ou a sua princesa voarem. Sim, deixe-os ir, deixe-os descobrirem um mundo bem maior que o quarto desarrumado deles.
Permita que eles corram o risco de se apaixonar, que aprendam a dar valor para as moedinhas, que sintam falta da sua comida, que chorem de saudade. Deixá-los partir para um intercâmbio é colocar à prova tudo que você os ensinou, todas as suas teorias, todos os seus argumentos. É a prova real, o teste de fogo para saber se você fez o seu papel enquanto mãe ou enquanto pai.
livro “Morar Fora: sentimentos de quem decidiu partir”
Tempo de Mudança – Para Pais e Filhos
Pode ser que o seu filho volte com uma tatuagem, pode ser que nunca mais queira gastar tanto dinheiro com roupas, pode ser que as prioridades deles mudem, que o melhor presente que você possa lhes oferecer seja uma passagem aérea e que até o cabelo dela volte “estranho”.
Pode ser, e provavelmente será. Até porque estamos em constante mudança não é mesmo?! Ou você é o mesmo cara de sempre, aquele mesmo de quando conheceu a mãe dos seus filhos?! Ou você continua sendo aquela menina magrinha com permanente no cabelo dos idos de 1980?!
O seu filho vai mudar e esteja preparado para isso, bem como ele também sentirá que mudou e demorará um tempinho para se reencontrar.
É, você intercambista vai mudar, aceite. Você verá o mundo de outra forma, verá o dinheiro com outros olhos, entenderá o poder de um abraço, lembrará das suas caminhadas pela madrugada, dos seus estudos em outro idioma, dos amigos para a vida que fez durante o seu intercâmbio.
Todos aprendem
Os pais irão aprender a conviver com a ausência e os filhos com a saudade. Todo mundo sofre, mas todo mundo cresce. É um processo intenso, doloroso e maravilhoso onde pais e filhos correm o risco de se tornarem ainda mais admiradores uns dos outros.
Lembre-se, nós costumamos dar mais valor quando não temos e um intercâmbio pode ser perfeito para isso. Para todos, sem distinção.
A volta para nunca mais voltar
A volta do intercâmbio pode ser sofrida. Pode e será. Será sofrida para os pais que verão os seus filhos diferentes, que terão que aceitar que eles voltaram estranhos, com outros pensamentos e prioridades e com valores que mudaram nos últimos meses em que a distância se fez presente. Para os que estavam no intercâmbio a volta pode significar adquirir a “síndrome do viajante de mochila”.
Sim, voltar de um intercâmbio pode lhe fazer nunca mais sossegar, pode lhe forçar a ir para o Tocantins rever o seu “rolinho”, pode lhe fazer ir mais para São Paulo para reencontrar a galera, pode lhe fazer participar de um grupo no Whatsapp batizado de “família” onde tem gente do mundo todo e de todos os jeitos, menos os seus parentes.
É louco e dá até para escrever um livro de tantas histórias que foram vividas e sentidas.
Você pode morrer de medo de mudar e é um direito seu, ou pode querer ser outra pessoa e começar por um mero e simples intercâmbio. Porém, tenha certeza de uma coisa: você nunca mais será o mesmo. Nem você que vai, nem você que fica, nem você que é mãe, nem você que é filho, nem você que é pai, nem você que é filha. TODOS IRÃO MUDAR e o gatilho?! O gatilho pode ser um intercâmbio.
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*Cláudio Abdo publica textos sobre a experiência de morar fora toda semana aqui no site Vagas pelo Mundo.