As fantasias migratórias podem comprometer suas emoções ao colocar o pé na estrada. Morar fora pode ser mais difícil do que se imagina, entenda.
O movimento migratório ao redor do mundo acontece por diversas razões e para cada uma delas há um imaginário de como a nossa vida pode ser melhor, saudável, segura, próspera ou simplesmente em paz. Independentemente de qual seja o seu motivo para colocar o pé na estrada ou talvez continuar morando fora, é necessário olhar para sua realidade com clareza, maturidade e acima de tudo, sem ilusões e fantasias.
Morar fora pode ser mais difícil do que se imagina, essa será uma reflexão diferente de todas as outras, mas não menos importante, vamos juntos até o fim deste texto.
Morar fora pode ser mais difícil do que se imagina
Enquanto Psicólogo Intercultural eu tenho a oportunidade de atender dezenas de pessoas todas as semanas, cada uma delas com uma história singular e repleta de propósito. Me aproximar de cada uma delas é um verdadeiro privilégio, pois posso acompanhá-las nesta jornada desafiadora que é o morar fora.
A grande maioria delas criou um imaginário repleto de fantasias sobre como seria a vida no exterior e em algum momento criaram tantas expectativas sobre esse viver, que ao se depararem com a realidade, vivenciaram o sentimento da decepção, frustração, desânimo, desamparo e desvalor.
Nos contam tantas histórias e escolhemos acreditar em tantas pessoas, que parece que nos aproximamos mais das ilusões, do que da própria realidade.
Entenda que a instabilidade emocional pode comprometer seu plano migratório.
Criando fantasias antes de morar fora
O ser humano é mestre em criar cenários favoráveis e fortalecer fantasias, principalmente quando o foco é morar fora. Acreditamos que viveremos as melhores oportunidades profissionais, que seremos fluentes em um novo idioma, que faremos novos amigos, que nossos relacionamentos amorosos vão amadurecer, que não presenciaremos ou seremos vítimas de violência e que certamente vamos evoluir enquanto pessoa.
Eu trago essa reflexão porque eu também já me comportei assim, bloqueei todos os possíveis cenários que poderiam frustrar os meus sonhos e me agarrei ao pensamento de que “tudo vai dar certo…”.
Ao mesmo tempo que muitos brasileiros decidem colocar o pé na estrada, centenas de nossos conterrâneos estão fazendo o caminho de volta para casa e os motivos são infinitos, dentre eles, todos os motivos que os fizeram partir, ou seja, pelas mesmas razões as quais nos mudamos, por elas mesmas decidimos regressar.
Todos os dias escuto algum relato repleto de insatisfações, frustrações, desesperança e negativismo sobre a vida que estão levando fora do Brasil. Parece-me que nada é o suficiente e que todas as coisas ao redor são em tons de cinza; o clima, a temperatura, as pessoas, as políticas, a economia, a cultura e a própria existência.
Essa realidade nos traz uma reflexão urgente, será que realmente estamos prontos para morar fora ou apenas alimentamos essa fantasia de forma obsessiva?
Realinhando o relacionamento para colocar o Pé na Estrada e mudar de país.
Você está pronto para morar fora?
Então resolvi trazer algumas questões que te auxiliarão a perceber se você está pronto para morar fora: Você é inflexível quanto a comportamentos diferentes do seu? Consegue tolerar manias diferentes das suas? É impaciente com questões burocráticas?
Acredita que as pessoas com as quais deve conviver precisam ser parecidas com você? Consegue se desprender e desapegar de coisas, circunstâncias e pessoas? Não aguenta esperar o melhor momento e deseja tudo para agora?
A humildade está amadurecida ou ainda não sabe o significado dela? Está disposto a “não ter o controle” de nada? Por fim, como se sentiria em viver em um padrão de vida diferente do seu, não me refiro abaixo ou acima, mas apenas diferente?
Esses questionamentos não devem parecer assustadores, mas você deve refletir profundamente sobre cada um deles, antes de colocar o pé na estrada e caso você já tenha colocado, vale refletir ainda mais, para decidir se ainda vale a pena ficar por aqui.
As fantasias e ilusões que criamos funcionam como um mecanismo de defesa para nos auxiliar a chegar onde desejamos ou talvez a vivenciarmos aquilo que ansiamos.
Quando estamos com o nosso processo terapêutico em dia, conseguimos perceber facilmente o que pertence a realidade e o que são “coisas da nossa cabeça”, eis a importância de fortalecermos o nosso autoconhecimento e compreendermos até onde podemos ir sem nos desintegrarmos.
Leia também sobre a Perda de identidade no processo migratório.
Morar fora está longe de ser uma vida luxuosa
Morar fora está longe de ser uma experiência luxuosa ou rica, não se engane, principalmente com as redes sociais.
Talvez você esteja pensando agora, “Ok, entendi. Eu tenho um alto desejo de morar fora ou de continuar morando, como posso me distanciar das ilusões e fantasias?”.
Esse não será um exercício fácil, mas acredite que é possível, então aqui vão algumas orientações:
- Organize, planeje, reorganize e replaneje, isso te ajudará a viver uma vida possível;
- Antes de viver a parte boa do exterior, se regularize no país e faça um visto antes de se mudar. O tempo de espera de todos os documentos no exterior pode levar de seis meses a um ano;
- Não pense que fora do Brasil poderá dar um “jeitinho” para as coisas, por aqui não há espaço para isso;
- Lembre de ter o plano B, C, D e E… Sair de casa esperando que tudo dê certo e que seja o que Deus quiser, é o caminho mais rápido para voltar ao seu país;
- Cuidado com os influenciadores que segue, nem tudo é verdade e lembre-se que ele está sempre tentando te vender alguma coisa;
- Cuidado com os sites que escolhe se nutrir e alimentar os seus sonhos, alguns deles não estão comprometidos com a sua estabilidade;
- Tudo aquilo que você acreditar que será mais fácil no exterior, pesquise mais um pouco, verás que não é tão simples.
Saiba como manter a Autoestima durante o processo migratório.
Esteja preparado para a realidade: morar fora pode ser mais difícil do que se imagina
Morar fora pode ser mais difícil do que se imagina, viver no exterior pode deixar de ser sonho em poucos dias e quando você reparar, estará preso em um pesadelo sem fim. Um passo de cada vez é a melhor orientação que eu poderia te dar, sem pressa, com calma, com parcimônia, sem ansiedade ou impulsividade.
Os países não saíram de onde estão e dificilmente suas fronteiras serão removidas de seus lugares, então aprenda a viver o seu presente, para que seu passado não comprometa o seu futuro.
Por fim, a ansiedade dos outros não precisa ser a sua, aprenda a descansar e assim poderá chegar aonde deseja. Aquele que aprende a não dar passos maiores do que suas pernas, conseguem vivenciar a plenitude da vida.
Aproveite para ler também: Morar fora: onde os fracos não têm vez, um texto de Cláudio Abdo.
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