Desde que de lá saí, coleciono lágrimas, abraços e sorrisos que me servem de inspiração.
Do dia em que tive a certeza de que estava indo morar fora até hoje, coleciono lágrimas, abraços e sorrisos. Primeiro foram as lágrimas que vieram para lavar a alma de quem ficava e a minha que estava partindo. Elas sempre estiveram presentes nas despedidas ainda no Brasil. Do meu melhor amigo as senti no ombro, de alguns ex-alunos eram misturadas com ansiedade e alegria e muitas nem escorreram, mas ainda assim eram lágrimas sobre olhos mareados. As dos familiares estavam mescladas com olhares confiantes e medrosos, mas eram lágrimas de uma saudade que estava por nascer.
Preciso Falar das Lágrimas
Preciso continuar falando delas, das lágrimas, pois elas estão sempre com quem decidiu morar fora e partir. Não que sejamos pessoas tristes, pois não somos, mas ficamos mais emotivos. Eu, por exemplo, sempre fui um cara chorão, mas morando fora isso teve uma relativa piora. Piora no sentido de que a vida muda e o que não era capaz de emocionar hoje é. Uma menina tocando violino no centro da cidade lhe faz ficar a um triz de deixar que lágrimas lavem o seu rosto. Sem motivo, sem prévia explicação, mas a mistura de sentimentos faz isso. É saudade com medo, é ansiedade com fé. É incrível, mas os olhos de quem mora fora estão constantemente hidratados de lágrimas que, especialmente em chegadas e partidas, fazem questão de se fazerem presentes.
Os Abraços
Um simples abraço faz muita diferença. Dos amigos que vieram lhe visitar só sobram os abraços, bem como é o abraço que conforta no momento do adeus a outro amigo que está voltando. Com certeza, se eu pudesse colocar todos os abraços sinceros que recebi nesses últimos dois anos em que vivo fora numa caixinha, ela certamente estaria lotada. Cheia de abraços fortes, abraços carregados de sentimentos, de boas energias, de vibrações e intenções de que tudo continue andando e dando certo. São abraços que falam, que dizem para que continuemos nessa estrada.
No último fim de semana recebi abraços capazes de fazer qualquer um recarregar as baterias. O abraço de um amigo que recentemente conseguiu se curar de um câncer, da sua ex-cliente que se tornou amiga, do colega de mestrado que voltou para o Brasil após terminar a sua caminhada por aqui e que está no hall dos novos amigos da vida. É assim, são abraços carregados, pesados, cheios de empatia, de saudade, de carinho, de amizade. O coração estremece, a voz falha, mas a vida precisa seguir e vai seguindo.
Os Sorrisos
Consigo, de maneira incrível, recordar com muito mais facilidade hoje das pessoas que me sorriem. Parece bobo, e talvez seja, mas um sorriso dado na hora certa tem lá o seu poder. O aeroporto, que geralmente é uma central carregada de fortes emoções, nos presenteia com os melhores sorrisos do universo. É ali, naquele lugar de passagem que não é de ninguém, onde são promovidos encontros, despedidas, choros e sorrisos que serão facilmente recordados.
Tudo é Muito Mais Intenso
Uma pessoa que lhe visita quando você mora fora parece muito mais especial do que sempre foi na sua vida. Talvez seja a distância, ou porque ela é uma forma de ligação com os outros que você ama, porque traz recordações e memórias da sua cidade, porque lembrou de você e ser lembrado seja sempre muito bom. As amizades de antes continuam claro, mas uma amizade que começa tão longe de casa, que proporciona perrengues históricos, que se fortalece na calçada em frente ao Mc Donald´s ou naquele momento em que uma rede de wifi sem senha é descoberta é especial.
A intensidade com que as coisas acontecem aqui desse lado é inexplicável e, talvez, seja ela que faça com que rever alguém seja algo tão significativo. Nós que aqui estamos, somos reabastecidos de bons sentimentos que parecem materializados num abraço e, são esses sentimentos, que nos dão força para seguirmos em frente.
livro “Morar Fora: sentimentos de quem decidiu partir”
Lágrimas, Abraços e Sorrisos
A correria de antes não me permitia perceber e nem dar muita bola para as lágrimas, para os abraços e sorrisos que recebi antes de chegar aqui do outro lado. Hoje sou muito mais apreciador, muito mais respeitador e capaz de sentir o que batizei de “a materialização da saudade, da falta e do carinho”. A caixa onde guardo cada lágrima, abraço e sorriso que recebi na vida vai enchendo. Tudo vai fazendo mais sentido, tudo vai mudando, eu estou mudando. Ah, como é bom dar valor ao que realmente vale. É a vida querendo ser vivida, é o tempo sendo valorizado, são pessoas indo e vindo, chegando e partindo que trazem carinho e levam saudade.
Morar fora é isso, é tentar encontrar num reencontro o sentido para isso tudo. É ser lembrado, é saber que o sacrifício está valendo a pena e que, apesar dos pesares, somos inspiração para muita gente.
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*Cláudio Abdo publica textos sobre a experiência de morar fora todas às segundas e quintas aqui no site Vagas pelo Mundo.
2 Comentários
Muito obrigado pelo comentário Alan!
Boa sorte na sua nova caminhada, vai dar tudo certo!
Abração
Belo texto. Parabéns!!
Daqui a uma semana embarco também para a minha aventura. Vamos ver com me sairei. rs