Morar fora é um eterno exercício de avaliarmos nossas ações e intenções. Você não está adaptado ou você não quer se adaptar ao exterior?
Se tem uma coisa a qual nós precisamos refletir com intencionalidade é sobre a nossa postura face à cultura em que escolhemos viver. Muitos brasileiros decidem morar fora em busca do sonho de viver uma vida diferente, mas muitos deles estão vivendo um verdadeiro pesadelo. Realidade essa que nos inspira a refletirmos se a nossa dificuldade de adaptação no exterior é devido a fatores externos ou se somos nós que estamos nos sabotando dia após dia.
Você não está adaptado ou você não quer se adaptar ao exterior?
Quando olhamos para o movimento migratório ao redor do mundo, precisamos lembrar das famosas fases de aculturação: lua de mel, choque cultural, ajuste e adaptação. A primeira (lua de mel) dura alguns meses e surge assim que colocamos os pés na cultura anfitriã, tudo é lindo e maravilhoso.
A segunda (choque cultural) emerge quando nos damos conta que nem tudo são flores, passamos a perceber aquilo que é diferente e passamos a estranhar o que nos é pouco familiar.
Após alguns meses podemos vivenciar a terceira (ajuste), momento esse que temos a oportunidade de compreender o que precisa ser ajustado para que assim possamos nos sentir melhor e por fim e não menos importante, a quarta, a fase de adaptação, que conseguimos olhar ao redor e compreender que muitas coisas nos fazem sentido e que é possível estar onde escolhemos estar.
A psicologia intercultural preconiza que essas fases serão vividas por todos aqueles que decidem morar fora e que cada um vivenciará à sua maneira, de modo mais ou menos intenso. Quando não compreendemos essas fases podemos vivenciar uma experiência migratória desafiadora, nos sentindo perdidos, sobrecarregados e ansiosos.
Má adaptação cultural no exterior
É por isso que sempre trago a orientação, planeje, organize e pense com carinho em seu plano migratório, pois a chance de tudo correr mal longe de casa é altíssima. Morar fora muda a nossa história por completo e não devemos tratar essa realidade de forma leviana.
Enquanto psicólogo intercultural eu tenho a chance de atender muitos brasileiros no exterior que vivem em diferentes países espalhados pelo mundo e uma realidade muito que observo é a má adaptação cultural gerada pela falta de informações sobre como se sentir adaptado e pertencente no exterior.
Quando não sabemos o que fazer parece que tudo fica mais difícil e à medida que os desafios vão aumentando, parece que vamos perdendo o ritmo e passamos a nos ver de forma distorcida e por vezes disfuncional.
Já não nos sentimos mais seguros, começamos a só enxergar os problemas, as alegrias e felicidades deixam de ser percebidas. As amizades vão se enfraquecendo, o relacionamento afetivo esfria e a relação com a gente mesmo passa a ficar tão distante, que nem nos reconhecemos mais.
Em vez de desistir de tudo, que tal descansar um pouco? Leia esse texto!
Adaptar ao exterior: Autosabotagem ao morar fora
À medida que vamos amadurecendo na vida, os nossos mecanismos de autossabotagem também vão evoluindo. Aqueles que trabalham o autoconhecimento e buscam se conhecer de diferentes maneiras, estão melhor preparados para perceber os comportamentos que dificultam a jornada em busca daquilo que é importante para nós.
Nos autossabotamos quando fazemos escolhas e adotamos comportamentos que inviabilizam a realização daquilo que é bom e necessário para nós.
Imagine que você decidiu voltar para academia e que irá treinar logo cedo antes de trabalhar, mas nas noites que antecedem o seu treino você sempre dorme tarde, ou seja, dificilmente você conseguirá manter sua atividade física com excelência.
Outro exemplo é quando desejamos viver um relacionamento afetivo saudável, mas nunca temos tempo de qualidade para passar na companhia um do outro, sempre existem outras prioridades. Sabe quando você decide viver no exterior, pois estava cansado da sua antiga vida no Brasil e ao morar fora você se comporta como se estivesse no Brasil e só encontra prazer nas coisas do seu país? Isso também é uma autossabotagem diante do seu processo de aculturação.
Morar fora e autosabotagem
Se você está na dúvida se pratica a autossabotagem no exterior, se adaptar ao exterior está difícil, então eu separei alguns pontos para que você pudesse refletir:
- Você vive no exterior como se estivesse no Brasil?
- Você apresenta dificuldade em compreender e se inserir na cultura local?
- Tudo aquilo que lhe aproxima da comunidade anfitriã lhe gera asco ou estranheza?
- Acredito que tudo no seu país de origem, inclusive as pessoas, é melhor do que o lugar em que estás vivendo?
- Busca se manter distante do contato com os nativos, pelo receio do idioma e da sua forma de se expressar?
- Opta por não estudar, trabalhar e interagir o mínimo possível com todas as oportunidades de aproximação com as pessoas à sua volta?
- Acredita que sua vida seria imensamente melhor se regressasse ao Brasil?
- Decidiu não aprender o idioma local por acreditar que não é necessário?
- Se pega criticado os habitantes locais e por vezes se enxerga superior a eles?
- Já se percebeu completamente desconectado da cultura local por nada fazer sentido para você?
Esses questionamentos são poderosos. Desse modo, caso você se identifique com a metade deles, isso pode representar um grande sinal de que você está se autossabotando ao morar fora.
Eu posso compreender que todos nós temos nossas razões e motivos para ser como somos. Mas hoje eu gostaria de lhe dizer que é possível ser feliz no exterior e que há novos caminhos a percorrer para que possamos nos reencontrar com as escolhas que fizemos.
Qual foi a última vez que você se sentiu cuidado no exterior?
Viva uma vida inspiradora no exterior
Já aprendemos ao longo deste texto o quanto que é importante fortalecermos o nosso autoconhecimento e compreendermos o que é nosso e o que é do outro. Se nos concentrarmos em nossa própria história vamos perceber o quanto que nos distraímos ao longo da caminhada e o quanto que isso pode comprometer a nossa sensação de bem-estar.
As escolhas que fazemos e deixamos de fazer impactam a nossa sensação de pertencimento no exterior. Por isso que precisamos estar atentos aos padrões de comportamentos que repetimos sem nos darmos conta.
Para além disso devemos ter em conta as influências que recebemos, ou seja, será que minhas companhias reclamam muito da cultura local? Será que a maioria dos meus amigos se sente deslocado do país em que escolhi viver?
Portanto, todos nós, sem exceção, temos o direito e a oportunidade de viver uma vida digna e próspera, a onde quer que desejemos estar. Precisamos assumir o compromisso de fazermos escolhas melhores e acima de tudo, de nos sentirmos bem com aquilo que decidimos ser o melhor para nós.
Se você perceber que tudo é muito difícil e não sabe mais o que fazer, então chegou o momento de pedir ajuda profissional. Não precisamos nos sentir sozinhos no exterior e os psicólogos interculturais são ótimos aliados na jornada em busca de pertencimento ao morar fora.
Tristeza no exterior: como você lida com ela? Saiba como superar!
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1 comentário
Seria bom se tivesse um emprego do meu gosto