Morar fora pode ser exaustivo emocionalmente e precisamos aprender a desacelerar para podermos contemplar. Em vez de desistir, que tal descansar um pouco?
Aquele que nunca pensou em desistir da jornada migratória que atire a primeira pedra… A estrada é longa e muitos de nós estamos pouco preparados emocionalmente para enfrentar as adversidades inerentes ao processo migratório. São tantas perdas, tantas renúncias e tantas mudanças, que a chance de se perder no meio do caminho é altíssima. Em vez de desistir, talvez só precisemos descansar um pouco e enxergar o caminho com clareza e se você se sente cansado, sobrecarregado e sem energia para avançar, vamos comigo até o fim desse texto.
Em vez de desistir, que tal descansar um pouco?
Morar fora é um convite à mudança, mas não apenas geográfica, mas de mentalidade, visão, percepção, sensação e até de personalidade. Já falamos por aqui o quanto que os nossos traços de personalidade serão alterados à medida que nos distanciamos da nossa cultura original e nos aculturamos a um novo país.
Não há como escapar, todos nós, sem exceção, vivenciaremos essa realidade, alguns de modo mais intenso do que outros e quanto mais preparados estivermos, melhor poderemos aproveitar as oportunidades quando elas surgirem.
Parece que a vida no exterior é repleta de armadilhas; burocracias exageradas, políticas migratórias pouco flexíveis, economia instável, universo profissional pouco inclusivo, sociabilidade superficial. Afetividade quase nula, clima repleto de extremos e uma saudade que nunca passa…
Se você ainda não colocou o pé na estrada e deseja morar fora, vale estar atento a sua habilidade de lidar com frustrações e sua flexibilidade para lidar com aquilo que não podes controlar, mas se você já está fora do Brasil há um tempo, então certamente se identificou com a realidade a qual iniciei esse parágrafo.
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Aprenda a respeitar o tempo das coisas
Desistir é uma opção para todos nós, podemos abrir mão de tudo aquilo que não nos faz mais sentido. Podemos nos afastar daquilo que não nos encanta mais e temos a chance de fazer novas escolhas alicerçadas nos nossos desejos do presente e necessidades do aqui e do agora.
Por muito tempo convencionou-se que abrir mão da vida no exterior era sinônimo de fracasso, fragilidade, desorganização e falta de preparo intercultural. Mas a verdade é que precisamos aprender a respeitar o tempo das coisas, o que inclui nossa permanência longe de casa.
Aquele que não se sente cansado hoje talvez não tenha conseguido reparar em algumas alterações que nossa mente e corpo podem estar sinalizando, como por exemplo: Insônia, irritabilidade exagerada, indisposição social, humor deprimido, ansiedade exacerbada por situações naturais da vida, antecipação de sofrimentos.
Desconexão entre aquilo que sentimos e aquilo que pensamos, incoerência entre o que falamos com o que fazemos e por fim, não há descanso que seja suficiente para nos sentirmos descansados. Puxado né? Eu sei…
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Importância do descanso para pensarmos com clareza
Muitos de nós estão vivendo no piloto automático há muito tempo e talvez nem se lembrem de como é fazer as próprias escolhas ao morar fora. Parece que todas as pessoas decidem, falam e pensam por nós. Por mais estranho que isso possa ser, será que você não está vivendo algo parecido? A fim de lhe ajudar nessa reflexão, lhe trouxe algumas perguntas:
- Qual foi a última vez que tomou decisões de forma consciente, pensando em você?
- Há quanto tempo você não tira um tempo pra você?
- Já reparou que certas responsabilidades suas estão sendo terceirizadas pelo simples fato de lhe faltar energia?
- Já reparou no seu contentamento quando tem alguém próximo que consegue executar melhor as tarefas e você pode ficar livre?
- Se deu conta que sua vontade e opinião há muito tempo não é considerada em seus ciclos?
Grande parte de nós está a todo momento tentando se poupar, logo nos afastamos do nosso lugar de força, ou seja, do papel de ator principal da nossa própria vida. Eis aqui um dos grandes motivos pelos quais devemos aprender a descansar. Caso contrário, seguiremos nossa jornada no exterior de modo completamente inconsciente, sem estarmos despertos e atentos ao que acontece ao nosso redor.
Em vez de desistir, aprenda a descansar
Quando aprendemos a descansar parece que alguns problemas que antes eram considerados gigantes, tornam-se menores. Quando nossa mente funciona com nosso corpo descansado nossas emoções, sentimentos e comportamentos entram em harmonia, nos proporcionando assim uma melhor experiência nesta existência.
Até aqui nada novo para você, um discurso tão simples, mas tão difícil de implantar, não é? Morar fora é exatamente sobre isso, parece fácil, mas é sempre uma caixinha de surpresas.
Quando descansamos levamos menos as coisas para o lado pessoal. Damos conta que nem tudo é sobre nós, passamos a relevar aquilo que não podemos controlar, entregamos ao universo aquilo que não compreendemos, acolhemos o momento presente e abraçamos a nossa fragilidade.
Talvez neste momento você esteja se perguntando, “como poderia eu descansar, se sempre tenho tantas coisas pra fazer…”. Esse me parece ser um pensamento universal de muitos brasileiros ao redor do mundo e preciso confessar, não dá pra priorizar o descanso quando você escolhe atender a necessidade de todos a sua volta, sem considerar as suas.
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Estratégias práticas para priorizar o seu descanso
Se você sente que precisa aprender a descansar, então segue abaixo algumas sugestões práticas para encontrar conforto na desaceleração ao morar fora:
- Deixe de se comprometer com as pessoas, distribua mais não a partir de hoje;
- Olhe para sua agenda e veja quantos horários estão destinados para o acolhimento dos seus desejos e necessidades;
- Se você sente que precisa de mais horas em seu dia, isso significa que precisa estudar sobre gestão de tempo e essencialismo;
- Você já se perguntou aonde quer chegar se cansando tanto assim? Essa é uma pergunta poderosa, que talvez a resposta possa lhe ser útil;
- Qual o dia e horário o qual você não está disponível para ninguém? Caso não exista, crie um;
- Se você passou a vida servindo, que tal se encontrar sendo servido. Isso trará uma incrível mudança;
- Se a nova cultura em que você vive não incentiva ao descanso, seja você o maior guardião daquilo que lhe traz paz e harmonia;
- Se você não consegue lidar com tudo isso sozinho, chegou o momento de procurar uma ajuda profissional com um psicólogo intercultural.
Pense nisso, morar fora nos convida a termos uma vida melhor e não pior. Por isso, aprenda a fazer escolhas mais inteligentes e assim viver a vida que merece.
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