Será que temos noção do tamanho da responsabilidade que temos ao fazermos nossas escolhas? Você escolhe ser o bonzinho ou o mauzinho?
A tal dicotomia que norteia a humanidade é também a que guia este texto. Preto ou branco, escuro ou claro, vermelho ou azul, dia ou noite, Deus ou o inominável, o bem ou o mal? Venho, há meses na verdade, pensando nas escolhas e decisões que tomamos e como nunca queremos ser responsabilizados por elas. Também me peguei refletindo muito sobre a bondade, a maldade e o meio-termo no contexto “morar fora”. Vem comigo que você vai entender o que quero dizer, prometo!
Ser mauzinho é sempre mais fácil
Qual o seu sentimento ao ler o subtítulo acima? Traga a sinceridade para o nosso papo aqui e responda sinceramente: é ou não é mais fácil ser mauzinho do que bonzinho? Acha que não, eu vou mostrar que sim. Tente responder às perguntas abaixo e você vai acabar tendo que concordar comigo.
Primeira hipótese:
Um colega de trabalho (pode ser amigo ou familiar também) tem um bafo terrível. O pior dos bafos existentes, aquele que parece uma boca de lobo aberta quando conversa com você e TODO MUNDO já sentiu. Pergunta: é mais fácil avisar a pessoa e falar com sinceridade com ela OU falar do problema dela (sim, ter um bafo horroroso é um baita problema) com outras pessoas e até tirar um sarrinho da situação?
Segunda hipótese:
Você decidiu terminar a faculdade, ou fazer uma especialização, Mestrado ou Doutorado. No final do percurso se depara com uma grande dificuldade: escrever um TCC (trabalho de conclusão de curso – graduação e especialização), dissertação (Mestrado) ou tese (Doutorado). Pergunta: é mais fácil procurar um trabalho “pronto” na internet (ou até contratar alguém para escrever para você) OU se matar pensando em um “problema” original e que precisa de resposta?
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Terceira hipótese:
Você está namorando ou já casou com o “amor da sua vida”. Tempo vai passando (1, 10, 20, 30 ou mais anos) e as coisas caem na tal da rotina (que é absolutamente natural). Pergunta: é mais fácil continuar amando a pessoa que está com você há tanto tempo, encontrar maneiras de tornar tudo mais legal de novo, mudar a maneira como você a trata, sacrificar vícios e buscar as virtudes, perdoar, desculpar, seguir em frente OU começar a sair com os amigos e amigas, ir para o bar, começar a “paquerar” na internet, esticar a conversa com pessoas mais interessantes?
Quarta hipótese:
Imagine que você tem uma ideia que acredita ser “genial”. É um negócio, um serviço, um produto, um sistema ou sei lá o quê que você pensou e que vai ser capaz de mudar a vida das pessoas. Pergunta: é mais fácil tirar a sua ideia do papel, abrir uma empresa, dedicar horas, dias, meses e anos a fio, sacrificar seus finais de semana, sua família, vida social, viagens, férias OU ir em busca de um modelo de negócio pronto e testado por alguém (tipo franquia) que pode render X milhões por ano depois de não sei quanto tempo?
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Bonzinho ou mauzinho: onde está a maldade nas hipóteses?
Eu explico. Coloquei mauzinho no diminutivo para amenizar, mas no primeiro exemplo (ou hipótese) é mais fácil e engraçado tirar um sarrinho do que avisar a pessoa. Dizer a verdade é difícil, muitas vezes machuca (você e o outro) e, como não é um problema seu (o bafo), deixar pra lá e dar risada parece ser a melhor opção. Mas, cá entre nós, ao não falar nada para a pessoa, estamos sendo mauzinhos e escolhendo o percurso mais fácil.
No segundo exemplo, é claro que encontrar um trabalho pronto na internet é mais fácil. É o caminho mais simples, menos sofrido, mais tranquilo. E sim, caso a gente opte por “burlar o sistema” e plagiar alguém, estamos sendo mauzinhos. E por que? Porque se estamos estudando e nos especializando em algo, queremos ter um papel (diploma) que mostre para as outras pessoas que temos competência para exercer a tal profissão que escolhemos. Por isso, quando copiamos de alguém, estamos sendo mauzinhos com quem, futuramente, vai nos pagar por sermos especialistas num determinado assunto.
No caso da terceira hipótese, desistir é sempre o caminho mais fácil. É fácil ir para o bar, sair com os amigos e as amigas, beber sem hora para voltar para casa, sem compromisso, sem ter que dizer nada para ninguém, sem dever satisfações, poder conversar e esticar o papo com quem quer que seja, paquerar, namorar, se apaixonar. Difícil mesmo é ser fiel. Complicado é constituir família, ter responsabilidades, pessoas que dependem de você, horário para dar banho (quando se tem filho(s)), jantar, dormir, cuidar de madrugada, buscar água para quem você ama de madrugada, ser boa mãe, bom pai, bom marido, bom irmão, bom filho, boa cunhada, boa nora, bom vizinho.
Morar fora: se a gente não voltar
Perdoar não é fácil
Perdoar não é fácil, amar incondicionalmente é para poucos. E ao “desistir” estamos sendo mauzinhos porque sabíamos (ou deveríamos) que quando iniciamos um relacionamento, estamos mais do que escolhendo apenas uma pessoa. Estamos casando com a família, com uma parte da sociedade e, depois de termos filhos, isso se amplia.
Ao deixar isso tudo pra lá, acionamos uma bomba atômica que sabemos como jogá-la, mas não temos ideia das consequências, do tamanho do estrago, conseguimos ver o início, mas jamais prever o fim.
No último caso, o do negócio genial, eu e você já sabemos a resposta. É até uma decisão boba a de escolher o caminho que já foi feito por alguém. Sacrificar o tempo, a família, as boas noites de sono para criar algo do zero e sem certeza de nada não é para qualquer um. Sem contar que, no caso de uma franquia, se o negócio não der certo a culpa nem é sua, é da péssima ideia de quem criou.
E onde seríamos mauzinhos aqui? Não somos se “perdoarmos” à priori quem pensou no negócio e dermos para a pessoa a possibilidade de que aquilo não corra bem. Caso não seja assim, estaremos sendo mauzinhos, pois além de não termos pensado, estaremos contando para todo mundo sobre o fracasso sem uma única gota de gratidão.
Morar fora: quem éramos e quem nos tornamos
Morar fora: o livre arbítrio
Se tem algo maravilhoso que Deus nos deu foi o livre arbítrio. Sim, nós podemos escolher se queremos seguir o caminho do bem ou do mal, de sermos bonzinhos ou mauzinhos, da honestidade ou da sacanagem. Isso ninguém nos tira até o último dia da nossa existência.
Trouxe exemplos bobos, situações hipotéticas ou até reais do dia a dia e que, claro, poderiam ser muitas mais. Acho que, ao morar fora, Deus nos dá outro grande presente: o de que encurtar o caminho entre uma decisão que tomamos e as consequências e o impacto que ela terá em nossas vidas. Ao viver em outro país, nossa escolha de hoje é sentida amanhã, bem diferente do que quando moramos no mesmo lugar de sempre.
O caminho entre a boa escolha e a má é muito mais curto. As consequências também. Por isso, ao chegar nos 10 invernos morando no exterior lhe digo e deixo um conselho: cuide das suas escolhas e tenha clareza das consequências.
Pense, reflita, tire um tempo para, antes de decidir, focar no resultado da sua escolha. Por fim, aproveite o percurso e os momentos da sua trajetória, pois o fim a gente já conhece. Que o novo ano seja repleto de boas escolhas para que, no futuro, sua colheita seja farta (daquilo que você está plantando).
Em 2024, quem você escolhe ser o bonzinho ou o mauzinho? Pense bem nas suas escolhas.
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*Ouça também o Podcast Partiu Morar Fora, um podcast cheio de reflexões sobre a vida e sobre morar fora: