
Longe de casa nenhuma partida deve ser encarada de modo leviano, afinal pode ser sua última chance de deixar os outros com boas palavras. Saiba como lidar com as partidas no exterior.
Se tem uma coisa a qual nós devemos respeitar ao morar fora é ao poderoso ritual das partidas, afinal de contas, longe de casa nada é, apenas está. Aqueles que cruzam nosso caminho não podem prometer permanecer, mas certamente entregarão um pouco de si e ter essa consciência lhe ajudará a aproveitar o momento presente como se realmente não existisse o amanhã.
Muitos brasileiros estão presos em um looping infinito de acordar, fazer o que precisa ser feito, dormir e recomeçar tudo de novo, mas seria essa a vida que sonhamos viver no exterior? Vamos comigo até o fim do texto e prometo iluminar o caminho para essa reflexão necessária.
Como lidar com as partidas no exterior
Vivo em Portugal há mais de cinco anos e minha experiência migratória tem sido enriquecedora, composta de muitas alegrias, vitórias e evoluções. Realidade essa que só foi possível após ultrapassar os desafios, superar os obstáculos e me refazer em meio a tantas perdas.
Eu fui Jornalista por quase uma década e aprendi que não existe almoço grátis, um lembrete claro que não há benefícios sem um preço a se pagar, realidade essa que se assemelha ao processo migratório. Tais contextos se conectam porque ambos requerem de nós uma clareza de que precisamos nos esforçar para conquistar a vida que sonhamos.
A depender da região do Brasil em que crescemos podemos fortalecer o nosso apego a coisas e pessoas. Um comportamento que pode comprometer a nossa saúde emocional no exterior, principalmente se encontramos no outro a razão do nosso existir.
Morar fora: o que você precisa para avançar no exterior
Relações superficiais no exterior
Aqueles que decidiram morar fora conhecem o desafio que a sociabilidade nos impõe e longe de casa as relações tendem a ser mais superficiais, distantes e menos calorosas. Contexto esse que pode representar uma verdadeira ameaça para aqueles que aprenderam a encontrar valorização, acolhimento e reconhecimento nos feedbacks externos, ou seja, o famoso suporte externo.
Entende-se por autossuporte a prática de oferecermos a nós mesmos o suporte que precisamos para lidarmos com os desafios impostos pela vida à nossa volta. Aqueles que aprenderam a fortalecer o suporte a si mesmos conseguem passar por adversidades com menos comprometimentos emocionais e se abalam menos diante de circunstâncias imprevisíveis.
Diferente daqueles que não conhecem as próprias emoções, que negligenciam o próprio corpo e estão completamente desconectados da própria espiritualidade.
Você ganhou uma nova chance de viver uma vida inspiradora no exterior
Dificuldade em aceitar as partidas
Aqueles que não possuem dificuldade com as partidas que atirem a primeira pedra! Eu sei que não devo generalizar, pois conheço pessoas que não ligam nada para aqueles que partem e está tudo bem, cada um encontra suas formas de se envolver nas relações e proteger-se das despedidas.
Porém, morar fora é um eterno exercício de desapegar, seja dos itens da bagagem em viagens com companhias aéreas low cost, dos armários pequenos das habitações minúsculas ou dos encontros superficiais e frios que tivemos e teremos.
Rede de apoio no exterior e segurança
A dificuldade em aceitar as partidas no exterior possui uma relação direta com o nosso senso de segurança e eu explico. Imagine que depois de meses morando fora você descobre que seu vizinho é gente boa, que vocês podem compartilhar receitas, fazerem um social aos fins de semana e que se algo acontecer, um está para o outro…
Debaixo do prédio que você mora possui uma cafeteria e sempre que você não está em casa os donos recebem as suas encomendas dos correios. Todos os sábados pela manhã você os prestigia tomando um cafezinho lá e aproveita para conhecê-los melhor e falar um pouco sobre sua cultura…
O petshop que você leva seu pet é gerido por brasileiros e seus animais amam estar lá, fazendo com que você fique mais tranquilo por saber que eles estão sendo bem cuidados…
Quando olhamos direitinho é possível perceber o quanto que a rede de apoio se ampliou, não é? Algo tão difícil e caro ao morar fora, uma rede qualificada de apoio a qual podemos chamar de nossa. Quando a cafeteria fecha, o petshop muda e seu vizinho morre, nos sentimos desolados, afinal de contas, a nossa rede de apoio se enfraqueceu e meu senso de segurança está comprometido.
Percebe por que temos dificuldade em aceitar as partidas? Porque as chegadas podem nos representar conforto, estabilidade e diminuição da percepção de vulnerabilidade.
Adotar o vitimismo no exterior pode comprometer seu plano migratório
Como lidar com as partidas no exterior
Já aprendemos que as partidas serão inevitáveis e que precisamos estar preparados para lidar com elas, então hoje eu trouxe algumas sugestões de como você pode trabalhar suas emoções e mente para lidar com aqueles que passarão pela sua vida:
- Contemple e desfrute sem possuir, nada é nosso, tudo nos foi emprestado;
- Se você não se imagina sem uma pessoa, sugiro desenhar esse novo cenário, afinal ele pode estar mais próximo do que você imagina;
- Não seja dependente de nada e de ninguém, ser livre lhe ajudará a respeitar a liberdade do outro;
- Fortaleça suas emoções para aprender a estar bem com você, para quando o outro for embora não parecer o fim do mundo;
- Nem tudo o que você pensa, escuta e enxerga corresponde a realidade, seus filtros podem turvar o seu entendimento, tenha cuidado.
Como seria sua vida hoje se tivesse feito escolhas melhores no passado?
Nada é para sempre
- As pessoas possuem uma validade em nossa vida, nada é para sempre e entender isso nos auxilia a aproveitarmos o momento presente.
- Quando se tratar da sua partida, deixe as pessoas com palavras de amor, carinho e respeito;
- Organize sua vida para facilitar para quem fica, assim eles poderão acolher os próprios sentimentos quando você não estiver mais neste plano;
- Por fim, nosso tempo está acabando, não finja que isso também não é com você.
Aprender a lidar com as partidas é tão importante quanto lidarmos com as chegadas. Somos tão bons no começo, que parece que no fim desaprendemos a ser brilhantes como no começo.
Prova disso é como quando entramos em um novo relacionamento, prometemos tanto que até nós mesmos duvidamos se somos capazes de realizar, mas a depender do percurso podemos não saber lidar com os términos.
Portanto, aprender a lidar com as partidas no exterior será um verdadeiro favor ao fortalecimento do seu plano migratório, pense nisso!
Quando tudo parece estar bem no exterior, mas não está…