Que a vida é feita de escolhas nós já sabemos, mas morando fora elas parecem ter outro peso.
Praticamente nascemos fazendo escolhas ou, quando somos bebês, alguém está fazendo essas escolhas por nós. É o time que iremos torcer, a religião que devemos seguir, a roupa que temos que vestir ou até mesmo a escola que precisamos frequentar. Escolhas, escolhas e mais escolhas. Porém, quando vamos crescendo e chegamos na tal da maior idade, tais escolhas devem ser feitas por nós e é aqui que entra o tal do morar fora, quando este é uma escolha.
Escolhas iguais, pesos diferentes
Quando morar fora é uma escolha, tudo parece tão angustiante. Perguntas inundam nossa mente e não nos deixam mais em paz. Será que estou indo para o país certo? Será que o frio não é de matar? Será que as pessoas são queridas? Será que vão nos aceitar como somos? Será que conseguirei me comunicar? E o custo de vida? Será que conseguirei um emprego? – não que quando estamos “em casa” não façamos tais perguntas e até escolhas, porém morando fora as respostas que nos são dadas terão ooooooooutro peso.
Partir é uma escolha
Podemos não ir, podemos negar a proposta de trabalho, podemos não querer ter que enfrentar uma outra cultura, pessoas que pensam de modo diferente da gente ou até mesmo ter que comer aquelas comidas estranhas que só víamos pela TV. Porém, quando todas as possibilidades são esgotadas e não temos outra alternativa, nos jogamos. Caímos no vazio da novidade, no abismo da ansiedade, despencamos do monte da certeza para o vale das incertezas. Quando podemos escolher e fazemos isso, temos que abrir mão de tudo que tínhamos, de todos que conhecíamos, do nosso estado de conforto e passamos para o enfrentamento.
Enfrentar o novo requer coragem
Já disse que nós que moramos fora não somos melhores do que ninguém, mas somos diferentes da maioria das pessoas. Diferentes porque temos coragem para enfrentar o novo bem longe de casa, num país que não é o nosso, num lugar que nunca havíamos pisado, longe da família, distante dos amigos, convertendo moeda, tendo dificuldade para alugar um apartamento entre tantas outras coisas. Isso tudo requer coragem excessiva, peito aberto, choros contidos, mente cansada e valentia. Os fracos não tem vez aqui do lado de fora, a vida não costuma perdoar os fracotes e atropela, sem dó, os medrosos.
Escolhas pesadas
Passamos a fazer escolhas, escolhas pesadas. Tais escolhas, muitas vezes, não permitem erro, não dão chance para uma segunda vez. Na maioria dos casos, para sairmos do nosso país vendemos tudo que tínhamos e viemos com a grana contada. Outras vezes, além da grana na estica, não temos mais idade para ficarmos errando e tentando consertar, o tempo urge e os perdões tendem a diminuir com o girar dos ponteiros dos relógios da vida. E nem estou falando do perdão dos outros, me refiro ao perdão que nós mesmos nos impomos.
livro “Morar Fora: sentimentos de quem decidiu partir”
Não podemos errar
A pressão para que tudo dê certo é enorme. Tem os que ficaram e, em grande parte, torcem para o nosso sucesso, mas também tem aqueles que estão só esperando que a nossa maionese desande ou nosso bolo fique abatumado e eles possam dizer, com a soberba que lhes é característica, um “eu sabia que não ia dar certo” ou até mesmo aquele “só quero ver como vai ser daqui pra frente”. Além dos que ficaram, existe a nossa pressão. A nossa ideia de que não viemos para fracassar, de que deixamos o nosso país para nos encontrarmos, para sermos diferentes do que éramos, para conseguirmos o nosso canto, o nosso lugar ao sol. Essa pressão, de lá e de cá, tanto pode nos jogar pra cima como pode nos enterrar. Se isso vai acontecer não sabemos, mas temos uma única certeza: a de que não podemos errar.
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*Cláudio Abdo publica textos sobre a experiência de morar fora toda a semana aqui no site Vagas pelo Mundo. Volte sempre!