Depois de abrir a porta para sua nova vida, você não estará nem aqui, nem lá. A chave para o limbo vai começar.
*Artigo atualizado em 06 de maio de 2022.
Uma coisa que já notei morando fora é que quando a gente decide partir, a gente ganha a chave para o limbo. Alguns irão utilizar essa chave, outros não. Acontece que, na maioria das vezes, o limbo não é uma opção, e sim apenas e meramente a consequência de um decisão que tomamos anteriormente. Eu sei que está parecendo loucura, mas continue e você vai entender onde eu vou chegar.
A chave para o limbo: nem aqui, nem lá
Acontece que quando a gente decide morar fora, a gente começa a caminhar na beira do limbo. A gente se achava importante, trabalhava em um lugar que “não vivia sem nós”, tinha amigos, passava o Natal em família e tinha muitos conhecidos que davam uma mãozinha institucional na vida.
Porém, quando a gente parte, começa a perceber que não éramos tão importantes assim, que o pessoal do trabalho vai se virar sem nós, que os amigos irão tocar suas vidas sem a nossa presença e que o Natal é só mais uma data como tantas outras. Os conhecidos da tal mãozinha institucional nem se lembrarão de nós. Partimos para o novo, caminhando ao lado do limbo.
No começo a gente não está mais lá porque de lá saiu, mas também não está aqui porque não conhece nada e nem sequer consegue se localizar. Então, sem querer, estamos no limbo, estamos na margem, do ladinho de tudo.
A gente vê, a gente percebe, a gente até tenta interagir, mas está no limbo e nos sentimos perdidos, sozinhos, tristes e desorientados. Nada parece que está bom, muita coisa não faz sentido.
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Erro recorrente
Caímos no limbo sem querer, mas não precisamos continuar nele. Acontece que não estamos lá nem cá, mas com certeza a margem mais próxima é a de cá, essa aqui de fora onde nós estamos. Um erro recorrente é tentar nadar para a margem do passado, aquela do lado de lá, aquela da vida antiga, do país onde estávamos e de onde, por opção, saímos.
Quando nos damos conta que estamos no limbo, precisamos urgentemente fazer uma cirurgia de corte de cordão umbilical, um corte profundo nas correntes do passado e começar a nadar para a margem de cá, essa aqui do novo país, da nova vida. Nadar para trás não leva a lado nenhum.
Uma decisão para a vida
Certa vez escrevi que quando moramos fora, criamos referências. Isso é uma das coisas mais maravilhosas da vida, mas também pode se tornar um dos piores pesadelos da nossa existência. Acontece que ao fazermos as nossas malas e partimos para uma vida fora, fazemos um percurso sem volta.
Não, não estou falando da distância geográfica ou física, me refiro ao caminho mental que traçamos. Do dia da partida em diante, estaremos criando referências e mais referências, faremos 1 milhão de comparações e, mesmo que a gente volte, a gente nunca mais vai voltar.
Morar fora: a gente aprende a andar sozinho.
Lá era estranho, aqui também será
Morando fora a gente aprende muito, a gente rala, a gente sofre. Porém, a gente cresce, a gente amadurece. Se você não está se adaptando ao seu novo país, você não é a única pessoa que está passando ou já passou por isso. Você pode estar se sentindo uma alma penada, deslocada, à margem.
Mas saiba de uma coisa, se você optar por voltar, lá também você se sentirá assim. Se sentirá porque você já quis sair porque buscava algo novo, porque queria se surpreender, porque tem uma alma de viajante e é corajosa apesar dos pesares. Do dia em que partimos para morar fora até o fim dos nossos dias seremos os mestres da comparação, teremos as mais diferentes referências e, vez ou outra, nos sentiremos no limbo.
Um parceiro para a vida
Jamais tome uma decisão tão importante como a de morar fora por impulso, na emoção. Se pensando e calculando já não é fácil, na loucura pode ser pior ainda. Se você ainda não partiu saiba que o limbo será um parceiro para a vida. Se você já se jogou e não está nem lá, nem cá, não desanime.
O começo é lascado para todo mundo, mudar de vida é uma coisa que mexe profundamente com a gente e quando isso se soma a uma mudança de país então, nem se fala. O limbo, queira você ou não, estará sempre ali. Nós que nos jogamos para o novo temos que aceitar isso e entender que, caso a gente entre nele (no limbo), a gente precisa dar um jeito de sair, de seguir em frente, de nadar para a margem do lado de cá, pois do lado de lá o que nos resta são lembranças e saudades, nada mais.