A gente aprende para nunca mais esquecer, mas demora muito até aprender.
Quando ainda somos criança, ainda nem bem completamos os cinco anos e já estamos tentando aprender a andar de bicicleta. No começo as rodinhas dão uma força e tanto, mas tão logo a coragem começa a tomar conta da gente, tiramos o apoio e tentamos nos equilibrar do jeito que dá. Obviamente que os tombos são parte do aprendizado e, por vezes, deixam marcas que carregaremos por um bom tempo, ou pelo resto da vida, mas isso também faz parte. O certo é que demoramos um tempo até pegarmos o jeito, que caímos, que nos ralamos, mas quando aprendemos é para sempre. Ah, e não importa a quantidade de tempo que passe, sempre que montarmos em uma bicicleta, sairemos pedalando sem muitos problemas.
Um aprendizado para a vida
Sei lá se são os tombos, sei lá se é o professor ou a fase da mais tenra infância. O que sei é que a dedicação dispensada para aprender a andar de bicicleta vale muito a pena. Vale a pena porque será para sempre, porque marca um período da nossa vida que dificilmente será esquecido, um tempo que não volta mais, mas que será sempre lembrado com muito carinho. Morar fora é a mesma coisa, pois é um aprendizado que demora, que pode ser dolorido e até deixar marcas, mas que será sempre lembrado por nós. O que aprendemos aqui do lado de fora é um aprendizado para a vida, um tempo que levaremos conosco pelo resto de nossas vidas.
Marcas
É o último adeus, o beijo, a lágrima do melhor amigo sentida no ombro, os sorrisos encorajadores na saída. Já na chegada talvez seja o cara que você nunca viu na vida e que vai lhe ajudar como um irmão, o chinês que mal fala inglês e que vai se oferecer para carregar uma mala sua na saída do aeroporto ou até mesmo um taxista que, ao cobrar a corrida, dará um descontinho e lhe desejará uma ótima ‘nova vida’. Não sei dizer ao certo o que, nesse tempo que estou aqui fora, foi mais marcante. Porém, tenho absoluta certeza que carrego marcas comigo de um aprendizado que jamais será esquecido, de palavras ouvidas, de olhares que marcaram, de chances e oportunidades que me foram dadas que se parecem com a cicatriz que carrego no joelho direito depois de um tombo fenomenal de bicicleta quando eu ainda era criança.
Demora, mas vale a pena
Aqui fora tudo é muito mais intenso, mas muito mesmo. Quando resolvemos partir, montamos pela primeira vez na bicicleta. Tentamos pedalar, não dá. Erramos o pé do pedal, já damos aquela ralada no dedão do pé para começarmos bem. Desanimamos, porém não desistimos. Percebemos que, morando fora, estamos aprendendo o tempo todo e, muitas vezes, não temos as rodinhas de apoio. Estamos descendo uma ladeira e nem sabemos direito como que freia. Mas, mesmo meio desequilibrados, vamos tentando de todos os jeitos encontrar o ponto de equilíbrio que ainda não sabemos direito onde fica. Aliás, encontrar o equilíbrio talvez seja o maior desafio de quem mora fora. Uns preferem dizer “estabilidade”, eu prefiro equilíbrio mesmo, até porque entendo essa palavra como sendo mais abrangente e que engloba a sanidade mental que precisamos manter por aqui.
Aos poucos
Aos poucos, bem aos poucos, vamos criando coragem e entendendo que os tombos nos tornam grandes. É caindo que se aprende, é ralando o cotovelo que aprenderemos onde fica o freio, é sentindo dor que daremos mais valor para os momentos de alegria e paz. É aos poucos, mas temos pressa. O tempo passa muito depressa, pessoas estão vindo e indo, nossa família aguarda por boas notícias. Muitos amigos acreditam em nós, sabem da nossa capacidade e torcem para que tudo dê certo, mas não fazem ideia das angústias que habitam o nosso coração e a nossa mente. Devagar vamos criando uma capacidade extraordinária de nos renovarmos, de termos uma força que, até bem pouco tempo, nem tínhamos ideia da existência dela. Aos poucos vamos nos conhecendo, nos reconhecendo, crescendo.
livro “Morar Fora: sentimentos de quem decidiu partir”
O que aprendemos morando fora, faculdade alguma será capaz de ensinar. O que sentimos vivendo no exterior, ninguém vai conseguir transmitir. É seu, é meu, é nosso e de mais ninguém. Os que moram fora montaram na bicicleta pela primeira vez. Eles erram, sofrem, acertam, descobrem como virar o guidão sem cair, como devem apertar o freio para não dar o tranco, aprendem minuto a minuto, estão em constante crescimento. Que o caminho é longo e tortuoso nós já sabemos, mas vamos continuar pedalando para o nosso destino com a certeza de que esse vento na cara é a melhor sensação que teremos, para sempre.
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*Cláudio Abdo publica textos sobre a experiência de morar fora todas semanas aqui no site Vagas pelo Mundo. Volte sempre!
2 Comentários
Muito obrigado Tamires!! Fico feliz em saber! Grande abraço!
Incrivel texto! Adorei e me identifiquei!