
Texto para quem tem medo de envelhecer e parar de realizar seus sonhos.
História da vida real
Ele tem 61 anos de idade, ela 57. Os dois, casados há quase 40 anos, sempre tiveram o sonho de morar fora. A ideia, desde quando ainda eram jovens, era conseguir passar um tempo em cada país para aprenderem um pouco mais sobre a cultura, hábitos, fazerem novos amigos e incluírem no currículo da vida algumas estrelinhas.
Pais de dois filhos, os dois sempre trabalharam muito. Ela era executiva em uma multinacional, viajou por vários anos e quase não acompanhou o crescimento dos filhos. Formada em administração, numa época em que as mulheres ainda ocupavam menos espaço nas grandes empresas, conseguiu construir uma carreira sólida e reconhecida. Ele, contador por formação, sempre atuou na área e, por conta da profissão, aprendeu desde cedo a importância de economizar, fazer contas e pensar no futuro.
Quando se conversa com os dois, nota-se com clareza, que a vida para eles passou depressa. Eles fazem questão de deixar isso claro, porém acredito que o tempo tenha sido muito bondoso com os dois, mas suas marcas são visíveis, mesmo não sendo importantes. O que importa, ao conversar com o casal, é que estão radiantes, parecem jovens recém-casados que mudaram-se há pouco para a nova casa e estão começando a vida. Estão felizes, são cordiais um com o outro, carinhosos e estão ansiosos para viver a experiência de morar fora.
Antes tarde do que nunca
Sim, eles levaram muito tempo para conseguir realizar o sonho de morar fora. Hoje, com a vida em tese mais tranquila, conseguem deixar de lado um pouco os afazeres profissionais (os dois ainda trabalham) para pularem de cabeça numa aventura digna de um filme. Serão cinco meses apenas, mas com certeza os cinco meses mais intensos, mais repletos de acontecimentos, com mais novidades que muitos anos da vida não permitiram. Ah, e o “tempinho fora” deles pode se tornar “tempão”, já que a experiência também lhes trouxe cautela e eles podem experimentar antes de tomar a decisão final de morar fora para sempre.
Optaram por Portugal por conta da língua, alugaram um apartamento, compraram um carro barato para poderem varrer o país de norte a sul, conhecer aldeias, castelos, museus, restaurantes e pessoas. Registram tudo em fotos e conectados andam com os celulares afiados e um tablet a tirar colo. Os filhos ligam diariamente, querem saber das novidades e ela mata a saudade da netinha de quatro anos pelo Skype. Ele, todo orgulhoso, faz operações bancárias e está sempre atento ao email, tudo na tela do smartphone, do tablet ou do notebook.
São senhores, mas parecem ter entendido que a tecnologia está aqui para ajudar e que veio para ficar. Sem medo de quase nada, desde os primeiros dias já saíram para desbravar a cidade nova, fizeram passeios, conversam com as pessoas, são interessados pela história e pela cultura, pesquisam tudo na internet e, mais tarde, pessoalmente vão ver com os próprios olhos o que viram pelo computador. A mais pura e simples tradução do virtual auxiliando o real.
Idade atrapalha?!
A idade não os atrapalha, aliás só os ajuda, pois sendo mais experientes entendem a urgência da vida. Já perceberam que o mundo é grande demais e que talvez tenham pouco tempo para realizar tudo e todos os sonhos que querem, mas antes tarde do que nunca. É preciso começar não é mesmo?!
Quando vejo pessoas mais velhas protelando os seus sonhos, empurrando e querendo deixar para depois, lembro dos dois. Quando achamos que “estamos velhos demais para isso”, podemos pegar o exemplo desses jovens senhores e perceber que é possível. Talvez não dê agora, pois a vida urge e tudo parece acontecer ao mesmo tempo, mas não podemos (e nem devemos) colocar os nossos sonhos e desejos numa gaveta e trancá-la.
Por que eu escrevo esse texto?!
Porque muita gente teima em procurar desculpas para ficar no mesmo lugar e a idade é só mais uma delas. “Ah agora estou sem dinheiro”, “é só quitar o apartamento que eu vou”, “deixa a minha filha crescer que…” – apesar de serem afirmações verdadeiras, são desculpas que na realidade servem para nos deixar ancorados com a ideia de que só estaremos seguros se permanecermos no mesmo lugar. Mergulhamos num mar de “mas” e “poréns” e a vida vai passando depressa. O tempo é impiedoso, não quer saber das suas desculpas e acredite, mais cedo ou mais tarde, numa das várias curvas da vida, ele vai lhe sentenciar sem dó e com uma pena irreversível, muito difícil de ser cumprida.
O que escrevi sobre os dois senhores é puramente verdade. Eles existem, eles são meus amigos, eles estão morando na mesma cidade que eu aqui em Portugal e são, sem sombra de dúvidas, exemplo para muita gente. E não pense que foi fácil para eles, pois não foi e não é para ninguém. A decisão vem carregada de receios. É deixar a casa comprada com muito esforço, é tentar colocar uma vida inteira em quatro malas grandes, é ficar distante de filhos e netos, é deixar os irmãos, é sair de uma vida “redondinha” e recomeçar.
Só jovem pode morar fora?!
Geralmente associamos a ideia de morar fora aos jovens. É comum ouvirmos, na condição de menos experientes, que “não temos nada a perder”, ou que “vocês ainda são jovens e podem fazer isso” ou até mesmo que “vocês ainda não possuem tanta responsabilidade e por isso podem se dar ao luxo de ir morar fora”. Não concordo e nunca concordei com essas afirmações e o motivo é simples: enquanto a experiência de morar fora não for uma prioridade, ela nunca vai acontecer, independente da idade, da experiência ou do dinheiro que se tenha ou não.
livro “Morar Fora: sentimentos de quem decidiu partir”
Não só o “morar fora”, acredito que nada de muito interessante vai acontecer nas nossas vidas enquanto não for prioridade. Perceba que o que você enfiou na cabeça como prioridade, aconteceu, está acontecendo ou vai logo acontecer. Foi a mudança de cidade, foi procurar um novo trampo, foi terminar a faculdade, foi comprar um carro, foi organizar o seu casamento, foi viajar para o destino dos seus sonhos, foi fazer academia, foi emagrecer, foi começar a correr, foi criar o seu blog, foi começar a dar mais valor para os seus hobbies, foi mandar mensagens frequentes para quem você ama. Enfim, quando é prioridade, acontece ou tem muito mais chances de acontecer.
Com a decisão/vontade/oportunidade de morar fora é a mesma coisa. Enquanto não estiver no começo da sua lista de prioridades, você “nunca terá dinheiro para isso”, “jamais vai aprender o inglês”, “precisa se formar primeiro”, “nunca vai saber como vai viver como por lá”, “está velho demais para isso”, “precisa esperar o seu filho crescer”, “terminar de pagar o apartamento”, “não vai trocar o seu suposto super emprego por nada” entre tantas outras desculpas.
E aí?! Vai ficar esperando o tempo lhe sentenciar ou vai rever suas prioridades e começar a viver?!
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*Cláudio Abdo publica textos sobre a experiência de morar fora todas às segundas e quintas aqui no site Vagas pelo Mundo.