Porque quando partimos, pegamos toda a coragem que temos e investimos, sem medo de perder.
Quando a gente vai morar fora, sentimos de tudo um pouco. No começo somos ansiedade pura, mas com o passar do tempo os sentimentos vão mudando, se transformando. A ansiedade vai dando lugar ao medo que, se não for controlado, se torna pavor e pode colocar tudo a perder.
Então a gente senta, respira e começa a se lembrar o quão corajosos somos e fomos. Somos porque largamos tudo para trás e partimos, fomos porque se não fôssemos, ainda estaríamos lá, no mesmo lugar de sempre.
Poupança de coragem
A rotina não é fácil. Quem dera a vida pudesse dar uma paradinha estratégica, coisa de algumas horas ou, quem sabe e sem querer pedir muito, de alguns dias, só para podermos pensar melhor no que estamos prestes a fazer, mas não.
A vida não diminui o ritmo e, quando pode, acelera fundo. Sabendo que a tal paradinha não vai rolar, a gente começa a fazer uma poupança de coragem na correria e loucura do dia a dia. Sim, a gente quer morar fora, mas muitos de nós ainda precisa economizar na coragem que ainda não temos. Querer é uma coisa, ter coragem para uma mudança tão complexa é que são outros quinhentos.
Morar fora: ou você muda ou você volta.
Contando moedas
Certa vez eu escrevi que, quando a gente coloca na cabeça que vai morar fora, não tem nada e nem ninguém que seja capaz de nos impedir. A gente dorme e acorda pensando nisso, os dias parecem que nunca vão acabar.
A cabeça ferve e a rotina, sempre ela, teima em tentar matar os nossos sonhos e apagar o fogo do nosso churrasco. Porém, a gente não desiste e começa a guardar as nossas moedas de coragem. Sim, cada moedinha que a gente encontra na nossa vida vai parar no nosso cofre, pois a gente sabe que, um dia, elas serão muito necessárias. E não vai demorar muito.
Veja também: Morar fora: é de chorar de saudade.
livro “Morar Fora: sentimentos de quem decidiu partir”
Saldo positivo
De tanto a gente economizar, nossa conta de coragem está cheia. Agora, pouco a pouco, a gente vai começar a gastar toda essa grana de coragem. Começamos no dia em que pedimos demissão do nosso emprego, partimos para vender o que temos.
Avisamos nossos pais, irmãos, tios, amigos e o nosso coração corta só de pensar em dar adeus para os nossos avós. No dia do “tchau” para a família, a conta da coragem balança, parece uma bolsa de valores naqueles dias mais turbulentos, um sobe e desce terrível. Porém, tudo se encaminha e a gente parte.
Que nunca nos falte coragem
A nossa conta deu uma esvaziada, mas ainda temos coragem suficiente para entrarmos num avião, carregando a nossa vida num carrinho de aeroporto, e seguirmos viagem. São cinco, oito, dez, quinze, vinte horas de voo até a nossa nova casa.
Lá teremos que meter a mão no bolso e tirar toda a coragem que restou e ainda temos, parar, respirar e recomeçar a vida. E recomeçar a vida numa cidade que nunca foi nossa, num país que não é o nosso, que fala uma língua que não é a nossa, num frio de lascar ou num calor infernal exige disposição, mas isso não nos falta. Nós temos muito sonhos para realizar e, acima de tudo, queremos crescer.
Deixar tudo para trás exige muito de nós, por vezes até mais do que podíamos dar. Os olhos teimam em chorar, o coração parece que vai sair pela boca, a gente treme. Porém, nós temos coragem. Somos heróis que ninguém conhece, enfrentamos nossos medos e partimos em busca de algo melhor.
Viemos porque onde estávamos não cabíamos mais, porque queremos continuar nossos estudos, porque surgiu uma oportunidade no trabalho ou porque, simplesmente, queríamos nos dar essa oportunidade.
Morar fora é assim. É descobrir que temos uma coragem que nunca, nem nos nossos sonhos mais distantes, imaginávamos ter. É se enfrentar, é se conhecer, é se descobrir. Se, um dia, fundarem o Clube dos Corajosos, uma coisa você pode ter certeza: nós que moramos fora seremos sócios cativos e teremos lugar garantido na tribuna de honra. Ah teremos!
ATENÇÃO: os textos de Cláudio Abdo publicados aqui no site Vagas pelo Mundo viraram um livro (com inéditos). Caso você queira um exemplar autografado e com uma dedicatória exclusiva do autor, envie um e-mail para: [email protected] | Assunto: LIVRO. Nós lhe enviaremos todas as informações. Corra que os exemplares são limitados!