O futuro é agora, amanhã ou no máximo na semana que vem. Morar fora: um dia de cada vez.
Antes de morar fora, costumava dedicar bastante tempo da minha vida para o “tal do futuro”. Sim, ficava horas do meu dia pensando em como seria (ou deveria ser) a minha carreira, o meu trabalho ideal, quantos filhos teria, quantas viagens precisariam acontecer para que eu conseguisse conhecer um pouquinho do mundo, quanto dinheiro seria possível ganhar em apenas um ano, que carro eu compraria se tivesse X mil reais sobrando. Enfim, na maioria das vezes nem lembrava o que tinha almoçado, mas sabia com uma certeza idiota o que queria que estivesse no cardápio de natal mesmo que ainda estivéssemos em agosto.
Morar fora: um dia de cada vez
Até que um dia, talvez depois de queimar muitos neurônios em dedicação exclusiva na tentativa de desvendar o futuro, o futuro parecia ter chegado. Aquilo que era impossível, o sonho tão distante e quase bizarro de morar fora estava se realizando. Malas feitas, pastinha com documentos debaixo do braço, passaporte e algum dinheiro na doleira, mochila nas costas e puxando duas malas com quase 32 quilos cada uma, parti.
O Futuro
Cordão umbilical cortado, vida nova. Cheguei ansioso para desvendar o futuro e, já nele, comecei a cair na realidade, no hoje, no agora. Tinha passado tantos meses da minha vida preocupado em como o futuro seria, que nem sabia como lidar, estava nervoso, tremia.
O tempo vai passando, a adrenalina vai baixando e a ficha começa a cair. O problema dessa caída de ficha é que ela não é devagar, muito pelo contrário, é de supetão, de soco. De repente, eu estou no futuro sem saber o que fazer com ele, perdido e sem conseguir pensar, de novo, no futuro do futuro.
Morar fora é um desafio e, às vezes, a gente só precisa de um abraço.
Reaprendendo a Viver
Morando fora você aprende minuto a minuto, aprende apanhando, tomando tapa na cara e soco no estômago de que o futuro é agora.
É já, é urgente e precisa ser vivido. Aprende que esse negócio de ficar pensando láááááá na frente vai acabar lhe tirando a sanidade mental, se já não lhe tirou.
Mais difícil do que dedicar um tempo, seja ele qual for, para pensar no futuro, é chegar no futuro e aceitar/entender que ele chegou e que agora não tem essa de se esquivar da vida usando a desculpa do amanhã.
Morar fora é estar em outra dimensão.
O Futuro é Resultado do Presente
Depois de tanto pensar, de noites mal dormidas, de planejamentos, sonhos e idealizações em relação ao futuro, ele chegou. Chegou e me fez perceber que se essa maçante ideia de ficar matutando na cabeça o que vai acontecer amanhã, tinha me trazido até aqui. Ou seja, se por um lado eu tinha conseguido encontrar um alento que dizia que tinha valido a pena, por outro lado era necessário (e ainda é), ajustar o ponteiro da vida para o “daqui pra frente”. O futuro do futuro, o além, mesmo já estando mais além.
Um Dia de Cada Vez
Foi pensando no futuro que entendi que devia viver um dia de cada vez. É lógico que vamos, inevitavelmente, pensar no futuro e dedicarmos tempo extra para isso, mas morando fora aprendi a viver um dia de cada vez. Foi já estando aqui, quando fiquei sabendo da partida prematura de amigos por exemplo, que compreendi a urgência do hoje e a besteira que é a dedicação intensiva ao que não nos pertence, o futuro.
Por mais que tenhamos a ânsia e a vontade de controlar o futuro, ele não nos pertence e, quando deixamos o agora de lado, caímos na asneira de colocarmos o tão almejado futuro em risco. Claro, se o amanhã é resultado do hoje, porque diabos teimamos em relativizar o agora em prol de um depois que pode nem sequer acontecer?!
Compre o livro “Morar Fora: sentimentos de quem decidiu partir” (versão ebook).
A carreira ideal dificilmente vai existir, o trabalho ideal também não. A quantidade de filhos vai furar e será um milagre ter nem que seja um, as viagens não serão planejadas com anos de antecedência e estarão sujeitas a uma promoção para um país qualquer por 20 euros ida e volta que foi lançada agora.
A quantidade de dinheiro possível de se ganhar num ano vai depender de tanta coisa, seja do emprego que está para dar certo ou da bolsa de estudos que ainda não veio. Ah, e hoje eu sei que não compraria nenhum carro se tive X mil reais sobrando e que, se no natal eu conseguir me reunir com quem eu amo, pouco importa o cardápio.
Tudo isso eu devo a oportunidade que tive e tenho de morar fora, pois vivendo um dia de cada vez aprendi a desenhar meu futuro vivendo o hoje, pensando menos no amanhã e muito menos na semana que vem. Tem tanta coisa para dar errado amanhã, que é melhor se concentrar no que já deu certo hoje e aproveitar, pois nem isso é garantido.
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*Cláudio Abdo publica textos sobre a experiência de morar fora aqui no site Vagas pelo Mundo e também lançou o livro “Morar Fora: sentimentos de quem decidiu partir”.