Não há como sermos como éramos antes, mas talvez possamos ser melhores. A perda de identidade ao morar fora tem lhe afetado?
Colocar o pé na estrada é uma aventura sem igual, nada estará sob nosso controle, nossas expectativas serão superadas, viveremos uma vida que jamais viveríamos se não tivéssemos partido e no fim nos enxergaremos de uma outra forma. Toda essa magia traz consigo a perda de identidade diante do processo migratório, afinal de contas, morar fora é um convite a deixar de ser quem somos, para nos tornarmos um ser mais evoluído e diferente.
Perda de identidade no processo migratório
Eu estou vivendo a experiência migratória desde 2019 e, tantas coisas já aconteceram, tantas coisas já deixaram de acontecer e muitas coisas não saíram conforme o planejado, mas todas elas me surpreenderam.
Não há como morar fora e não ser constantemente surpreendido e vou contar a vocês o porquê. Quando vivemos muito tempo em uma única cultura, tendemos a acreditar que só existe uma forma de pensar, se comportar e agir. Ao colocarmos o pé na estrada descobrimos que estávamos completamente enganados todo esse tempo e que existem muitas possibilidades de sermos e existirmos neste mundo.
Não encare suas experiências turísticas, de poucos dias em alguns países diferentes, como uma verdadeira imersão cultural. Oficialmente ela não deixa de ser, mas digamos que algo muito raso. Quando estamos a passeio ativamos o modo contemplativo, ou seja, tudo pode ser lindo, precioso e sensacional, mas nós sabemos que a realidade é bem diferente disso não é?
Morar fora nos convida a nos desprendermos de quem éramos para acolher um novo modo de sentir, perceber e compreender a realidade. É nesse movimento que a perda de identidade vai se desintegrando, sem nos alertar que pouco a pouco estamos deixando de ser quem somos.
Ano novo exige uma nova postura: você vai morar fora em 2023?
Todo imigrante passa por isso?
A perda da identidade é um processo pelo qual todo imigrante passa, ou seja, precisamos nos desfazer de quem éramos para caber em um novo mundo, com novas exigências, com expectativas diferente, com regras desconhecidas, com necessidades específicas, com valores incompatíveis e por fim, com um modo de ser completamente incomum ao que estávamos acostumados. Talvez você esteja lendo esse texto e pensando, “eu não perdi a minha identidade, estou exatamente como sou…”, será?
Como de costume, aqui vão alguns questionamentos para te auxiliar nesta reflexão:
- Como você lidava com seus desafios antes e como lida hoje?
- Como era seu senso criativo no passado e como ele tem se manifestado hoje?
- Suas ideias fluem tanto quanto antes?
- Sua velocidade para resolução de problemas permanece igual?
- O que você tinha como força, que não a reconhece mais atualmente?
Vamos vivenciando a perda da identidade sem nos darmos conta, como se estivéssemos em banho maria, ou seja, de repente olhamos para trás e percebemos que nosso antigo Eu já não existe e com isso a saudades surge, nos transportando para as sensações que tínhamos ao sermos como éramos antes.
Começamos a lembrar da nossa coragem, da nossa ousadia, da nossa astúcia, dos nossos ajustamentos para darmos conta, do famoso jeitinho brasileiro, tão peculiar nosso. Morar fora nos revela que talvez a vida que tínhamos não era tão ruim, se calhar éramos nós que não a enxergávamos com amor e acolhimento.
Aprenda a valorizar o seu tempo sozinho.
Restabeleça a conexão com partes do seu antigo eu
Esse texto é um convite especial para pararmos por um momento e olharmos para nós, para tentarmos perceber quando foi que perdemos a nossa identidade ao morar fora. Não encare essa reflexão como algo ruim, mas como um lembrete de que podemos restabelecer a conexão com partes do seu antigo eu que ainda podem se encaixar nos dias de hoje e nos conduzir para lugares ainda melhores e maiores.
A depender da cultura em que estejamos vivendo e das pessoas as quais estamos nos relacionando, nada nos remeterá a vida que tínhamos e isso não é ruim, mas deves ficar atento para não se adaptar tanto ao ponto de não se reconhecer mais.
Perdemos a identidade no processo migratório quando nos afastamos dos nossos valores, princípios, costumes, formas de pensar, modos de agir, jeitos de se comportar, assim como quando deixamos de ser quem verdadeira somos para “caber” no mundo ou na vida de algumas pessoas.
Morar fora é uma oportunidade para sermos ainda melhores e não para sermos completamente diferentes do que um dia sonhamos. Compreenda que ser diferente é maravilhoso, com tanto que isso esteja alinhado ao seu propósito e objetivos de vida.
Se você está pensando em colocar o pé na estrada ou se já está de malas prontas e passagem comprada, não se assuste com esse assunto. A reflexão surge como uma oportunidade para você estar atento ao que todos os imigrantes estão sujeitos a passar e que certamente você irá vivenciar.
Liberte-se de atender as expectativas dos outros.
Perda de identidade: Morar fora exige autoconhecimento
Se você me acompanha há mais tempo por aqui sabe que sempre falo da importância do autoconhecimento, e não é porque sou psicólogo e atendo clinicamente imigrantes e expatriados, mas é por ser um sujeito que colocou o pé na estrada e que também passa por tudo isso o que escreve. Literalmente é com conhecimento de causa, embasado nos preceitos da psicologia intercultural, a qual também me debruço durante as horas de estudo.
Se viver no passado já era difícil, imagine nos tempos de hoje. Não há mais espaço para sermos estranhos na nossa própria casa, no nosso próprio templo, com a gente mesmo. Compreender nossas reais necessidades, fragilidades e dificuldades vai te ajudar e saber para onde ir, de onde deverá se retirar e de quem precisará se aproximar.
O autoconhecimento vai permitir o real resgate da sua identidade, para que você possa se recompor e se realinhar, ajustando-se às novas necessidades e exigências as quais se colocou.
Por fim, alcançaremos uma vida com mais intencionalidade, mais profundidade e mais autenticidade. Nos afastando assim do superficial, do frívolo e de todo excesso que nos impede de emergirmos. Todos querem o seu lugar ao sol, mas cuidado para não ser você mesmo quem está buscando se esconder do calor, da luz e da vida.
Somos mestres em nos autossabotar e quando nos damos conta, parece que não há nada mais a ser feito, mas talvez a gente só precise descansar um pouco e conversar com as pessoas certas.
Não esqueça de colocar o Autoconhecimento em sua bagagem.
*Caso você deseje me acompanhar pelas redes sociais, sugerir novos conteúdos e conferir mais dicas como essas, acesse o meu Instagram. Fale comigo também pelo WhatsApp.*Ouça também o Podcast Partiu Morar Fora, disponível no Spotify: