Perdas no exterior
Perdas no exterior – Foto: Canva.

Aqueles que decidem morar fora perderão muito ao longo da jornada e compreender como elas acontecem facilitará a adaptação longe de casa. Saiba como superar as perdas no exterior!

Alguns acreditam que viver fora do Brasil é um sonho e outros pensam ser um pesadelo, essa realidade varia de acordo com as experiências que vivemos desde quando nos preparamos para colocar o pé na estrada, mas o que ninguém fala é sobre tudo que perdemos quando decidimos partir.

Algumas perdas no exterior são invisíveis e outras estão escancaradas diante de nós, mas quantas delas são necessárias para que possamos nos reorientarmos na cultura que decidimos viver? Vamos até o fim deste texto e descobriremos juntos os caminhos possíveis para ressignificarmos o que ficou no meio do caminho. 

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Perdas no exterior: como podemos se reorientar e aguentar

Preciso confessar que quando estava me preparando para partir do Brasil, lá em 2018, eu escolhi não consumir conteúdos que inviabilizassem meu sonho. Estava tão comprometido e focado em estudar em Portugal, que nenhum tipo de dificuldade ou desafio migratório iria me parar.

Optei por ler, assistir, ouvir e me aproximar de circunstâncias que validassem meus desejos e alimentassem minhas expectativas, afinal de contas, viver no exterior sempre foi um sonho para mim. Se você não é do mesmo time que eu, então certamente você é daqueles que buscou saber de tudo e mais um pouco, assim a vida ao morar fora seria mais próxima da realidade e com menos surpresas ao longo do caminho. 

Quando saí do Brasil eu não tinha o conhecimento da psicologia intercultural que tenho hoje e se pudesse voltar atrás faria muita coisa diferente, principalmente um plano migratório mais consistente, robusto e acima de tudo, culturalmente sensível.

Negligenciar parte da realidade me colocou em sérios apuros, o que exigiu mais das minhas emoções, das finanças, da minha intelectualidade e do meu corpo físico. A minha jornada não foi muito diferente de outros estudantes internacionais, que deixam seus países de origem para expandirem-se em outras culturas. O que todos nós, sem exceção, temos em comum são as infinitas perdas com o passar dos anos ao morar fora. 

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Perdas invisíveis

 Existem perdas invisíveis ao longo da jornada migratória que ninguém comenta e sinto que hoje precisamos falar sobre isso. Aqueles que partiram vivenciarão uma enxurrada de perdas, começando pela família, amigos, terra, língua, status social, integridade física, se só fossem essas os nossos problemas seriam menos dramáticos, mas algumas estão ocultas e é por não as enxergar que não conseguimos ressignificá-las.

Homens e mulheres vivenciam essa realidade de modos diferentes, cada um a seu tempo e com suas especificidades, mas todos, sem exceção, perderão o que consideram valioso e inestimável. 

Perdas no exterior para mulheres

Ladies first, a depender de como se deu a migração das mulheres, elas perderão o status profissional, caso não possuam uma carreira portátil ou em muitos casos, uma autorização para trabalhar. Com isso a autoconfiança, independência e autonomia serão comprometidas.

Aquelas que antes possuíam funcionárias dentro de casa para auxiliar com os trabalhos domésticos e no cuidado com os filhos precisarão, por vezes, abrir mão deste suporte, comprometendo assim o tempo destinado à solitude e ao relacionamento conjugal.

Como boa parte da rede de apoio ficará para trás, possivelmente não sobrará tempo para estudar, divertir-se e até mesmo descansar, aumentando a sensação de estresse, cansaço e ansiedade, afinal de contas os “pratinhos” todos começaram a cair. 

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Perdas migratórias dos homens

Os homens não ficam atrás, a depender da profissão que ele possua e das necessidades da cultura de acolhimento, ele não poderá ocupar os lugares que passou a vida acostumado, exigindo dele uma adaptação às novas funções que lhes são apresentadas.

É aqui onde o desânimo surge, a frustração se instala e a insatisfação aumenta, pois o sonho da prosperidade financeira no exterior, motivo esse que conduz muitos brasileiros a saírem do Brasil, está cada vez mais distante.

Neste momento ele começa a se sentir impotente, inseguro e inconsistente, pensando se realmente tomou a melhor decisão em migrar. Se a escolha do país foi a mais acertada e o quanto ele vai tolerar todos os ajustes impostos pela vida ao morar fora.

De acordo com o nível intelectual, das condições que migrou e das aspirações migratórias, talvez esse imigrante precise trabalhar muitas horas fora de casa, perdendo o tempo de qualidade com a família, o crescimento dos filhos e dos momentos de silêncio que os homens tanto precisam para se reorganizarem mentalmente. 

Independente do gênero, o imigrante vivenciará perdas invisíveis, negligenciadas pela sociedade e muitas vezes desconhecidas por eles. Se você chegou até aqui certamente já se deu conta que ninguém passará ileso do processo migratório e quanto maior for a nossa clareza ao morar fora, melhores serão as nossas chances de vivermos uma experiência migratória emocionalmente saudável. 

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Acúmulo de perdas no exterior

Enquanto psicólogo intercultural reflito sobre quantas perdas são necessárias para nos reorientarmos no exterior? Estamos tão cansados, desgastados e frustrados longe de casa que muitas vezes não percebemos o acúmulo de perdas que carregamos.

Aqueles que já participaram de um processo terapêutico possuem o autoconhecimento mais desenvolvido, deixando no Brasil aquilo que não podem carregar. Desse modo, conseguem administrar no exterior aquilo que é da ordem do agora, nada menos e nada mais. 

Aqueles que nunca participaram de um processo terapêutico e que insistem em não iniciar me preocupam. Pois se morar fora é puxado para quem se conhece, imagine para aqueles que não conseguem se perceber. Essa situação se agrava diante de cenários desafiadores no exterior; crise financeira, imobiliária, política, migratória, emocional e até mesmo espiritual.

Quando não nos conhecemos acabamos nos colocando em situações difíceis e até mesmo constrangedoras. Pois na ausência de domínio sobre quem somos, não temos a habilidade de nos protegermos e oferecermos proteção a quem amamos. 

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Frustração migratória e compreensão das perdas

À medida que a vida vai passando e não resolvemos as nossas próprias questões vamos acumulando perdas. Elas deixam a nossa viagem pesada, estressante e ansiosa, um combo complexo na vida daqueles que já estão vivendo muitas privações ao morar fora.

Não reconhecer as perdas invisíveis é o caminho mais curto para frustração migratória. Ou seja, aquilo que planejamos e sonhamos não se realizou, logo passamos a nos questionar se tomamos a melhor decisão. 

Portanto, ao morar fora compreenda que muitas perdas estarão associadas ao seu caminho e reconhecê-las será um exercício poderoso para lhe manter em um caminho saudável e possível longe de casa.

Compreender quem você está se tornando e dá conta de ser, será uma estratégia eficaz para não comprometer o seu plano migratório. Chega de acumular perdas, elimine da bagagem aquilo que não lhe pertence e seja mais criterioso com aquilo que carrega. 

Leia também: Mudanças migratórias no mundo: ansiedade e impacto na saúde mental

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Vitor Luz possui formação em Jornalismo e Psicologia e ao longo da sua trajetória profissional pode se dedicar à busca de novos conhecimentos e fez uma formação em Inner Vision, Programação Neurolinguística – PNL e Certificação Internacional em Master Coaching Mentoring e Holomentoring – ISOR. Atualmente mora na cidade do Porto, onde aprofunda seus estudos em psicologia em um Doutorado na Universidade do Porto, além de possuir especialização em Psicologia Intercultural, proporcionando um acolhimento ajustado às necessidades daqueles que moram no exterior. Ele realiza atendimentos exclusivamente online, com clientes espalhados pela América, Europa, Ásia e Oceania, acolhendo imigrantes e expatriados brasileiros que busquem ressignificar perdas e aprimorar suas formas de se relacionar consigo mesmo e com os outros.

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