ficar no exterior
Foto: Autumn Parry Photography.

Ser um casal imigrante tem seus sabores e dissabores, entenda como equalizar as diferenças. Se você quer ficar no exterior e seu parceiro não, é hora de acertar os pontos.

Só quem já morou fora por um tempo conhece os desafios de colocar o pé na estrada com ou sem pretensão de voltar. Se a jornada já é desafiadora quando estamos sozinhos, imagine quando estamos acompanhados e se você pensa que talvez essa realidade pode ser mais fácil, esse texto vai te ajudar a compreender que não.

Por vezes um dos integrantes do casal deseja permanecer no exterior, mas o outro (a) deseja retornar, e agora? Essa é uma realidade muito comum e precisamos usar de muita sabedoria para tomar as próximas decisões, afinal de contas é o relacionamento que pode estar em jogo. Então vamos comigo até o fim deste texto e que possamos pensar juntos nestas circunstâncias. 


Eu quero ficar no exterior, mas ele (a) quer voltar e agora?

Se você ainda não colocou o pé na estrada e está naquela fase gostosa de planejar, planilhar, organizar e pensar em cada detalhe, certamente você está imaginando que tudo vai dar certo, que a maioria das coisas que deram errado para os outros serão diferentes com você e que você e o seu relacionamento vão viver a melhor fase da vida de vocês… Nesta fase não queremos que ninguém jogue água em nossos planos e tampouco que nos falem de problemas, afinal de contas a única coisa que queremos é morar fora!

É nesta altura que enxergamos, ouvimos e nos envolvemos em tudo aquilo que faz sentido para nós, descartando automaticamente aquelas realidades que podem nos fazer pensar duas vezes, não é mesmo? “Tudo vai dar certo, estamos juntos…”, “essa será a melhor fase que nosso relacionamento viverá…”, “viveremos dias incríveis, repletos de novidades e muito amor…”, “nada vai nos abalar, nos damos muito bem juntos…”.

Certamente você já usou alguma destas expressões, não foi? 

Relacionamento no exterior: como planejar uma mudança em casal.

Imigrar a dois exige um cuidado duplo

Ser um casal imigrante exige uma atenção redobrada, cuidados especiais, um planejamento ainda mais estruturado e quer saber o motivo? Porque são dois mundos diferentes, duas personalidades, duas inteligências emocionais e duas expectativas. Se você acha que tudo isso pode ser simples, então vamos expandir nossa compreensão e visão sobre tudo isso. Quando ainda estamos no nosso país de origem estamos cercados de amigos, familiares, conforto, e de tudo aquilo que amamos e é especial para nós.

Até aqui tudo bem, tudo nos conformes, a realidade começa a ser alterada quando colocamos o pé no avião e deixamos toda essa atmosfera para trás, ou seja, o morar fora deixou de ser um sonho e virou uma realidade.

Deixamos de ser nativos e nos tornamos imigrantes em uma terra “desconhecida”, é como se atravessássemos um portal e nossa vida desse um duplo carpado e voltássemos a posição inicial, mas desta vez em um clima diferente, com pessoas diferentes, em uma cultura diferente e em um idioma completamente diferente. 

Talvez neste momento você esteja pensando, “mas isso é tudo o que eu mais desejo viver, qual o problema nisso?”. Quando decidimos morar fora devemos separar um espaço em nossa mala para preenchermos com a nova cultura a qual desejamos viver, afinal de contas, se decidimos colocar o pé na estrada o objetivo era viver uma vida diferente, não é?

Quando foi que você deixou de se desafiar?

Quem cuida do seu bem-estar? Como fica sua realização?

Às vezes nos esquecemos disso e buscamos ter a vida que tínhamos, com os mesmos tipos de amigos, comendo as mesmas comidas, cheirando os mesmos cheiros, nos comportando da mesma maneira e esperando que todos à nossa volta percebam minhas expectativas e gentilmente as atendam.

Eis chegada a hora que as privações iniciais começam a surgir, nossos familiares estão do outro lado do oceano, nossos amigos não nos procuram com a mesma intensidade, não conhecemos nossos vizinhos, a saudade do nosso Pet aperta, a liberdade que tínhamos antes é reduzida dado o câmbio, e aos poucos começamos a nos sentir ansiosos, angustiados, tristes, amedrontados e por vezes desesperançados.

Com isso depositamos no nosso parceiro (a) a responsabilidade do nosso bem-estar, satisfação e felicidade, movimento esse altamente tóxico e pesado, pois ele ou ela também está vivenciando uma realidade parecida. 

Estamos nos sentindo tão perdidos, tão confusos e tão desgastados, que nada mais a nossa volta tem sentido. O que antes era um sonho morar fora, constatamos que estamos presos em um verdadeiro pesadelo. Nada saiu conforme o esperado e desistir de tudo se tornou a alternativa mais sensata. “Basta, não aguento mais, não preciso passar por isso…”, esse é um pensamento que inunda nossa mente sem pedir permissão e licença.

O bicho pega quando um dos integrantes da relação se sente bem no novo país, bem empregado, com um bom salário, regularizado quanto as questões de visto, altamente aculturado, adaptado a grande maioria das coisas e encantado com tudo o que vê e sente. Parece que tudo é sensacional, tudo o que era ruim ficou para trás, até os perrengues da vida de imigrante viraram piada. 

Morar fora exige autoresponsabilidade.

Está bom para mim, mas não para o outro (a)

morar fora em casal
Foto: Freepik.

O casal imigrante está junto para quase tudo, nos perrengues ou nas glórias, no studio ou em um apartamento com varanda, no verão ou no inverno, no colocar o pé na estrada para partir, mas e para o retornar para casa?

Esse é um dilema sério que acomete muitos casais a todo tempo ao redor do mundo, um está satisfeito e o outro completamente infeliz. Alguém consegue aproveitar cada dia, o outro não vê a hora de retornar.

Um quer vivenciar o presente e as novidades com muita intensidade, mas o outro se esforça para não enxergar beleza em nada. Como podemos equalizar essas diferenças? Afinal de contas, não desejamos ver o nosso parceiro (a) infeliz, insatisfeito, com depressão e sem ânimo, não é mesmo?

Quem é o egoísta da relação, aquele que pede para o outro ficar mesmo sabendo que ele (a) não quer ou aquele que pede para o outro (a) partir, ciente que não é isso que o outro (a) deseja? Compreendo que essa seja uma situação dramática e exige do casal imigrante que decidiu morar fora, muita sabedoria, maturidade, clareza e acima de tudo, autoconhecimento.

Não busque no exterior aquilo que só encontrará internamente.

Ficar no exterior ou voltar

Então aqui vão algumas dicas que te ajudarão a conduzir essa situação:

  • Antes de expressar seu desejo de partir ou ficar no exterior, se retire para um local tranquilo, pacífico e que seja leve, reflita sobre suas razões e motivos. 
  • Será que você já tentou enxergar a vida por um outro prisma ou tudo está tão ruim assim?
  • Ficar no exterior será bom para o futuro de vocês?
  • O que te leva a crer que aquele que está ao seu lado precisa atender suas expectativas e simplesmente jogar tudo para o alto?
  • Se você desejasse permanecer onde está, gostaria que alguém te pedisse para abrir mão disso?
  • De que forma sua realidade pode ser alterada para que você encontre mais conforto e paz?
  • Como anda sua flexibilidade e tolerância à frustração? Será que isso pode comprometer os seus planos e daquele que está ao seu lado?
  • O que te leva a crer que a sua antiga vida existe e que pode continuar sendo “boa” hoje?
  • Você deseja realmente regressar ou se o seu presente fosse diferente, você se sentiria melhor?
  • Já tentou buscar ajuda psicológica e psiquiátrica? Por vezes esse suporte pode te ajudar a enxergar as coisas com clareza. 
  • Lembre-se que tirar férias pode te ajudar a voltar para casa e ter um gostinho de como as coisas estão, talvez essa experiência o ajude compreender melhor a forma como está se sentindo. 

Portanto, imigrar a dois pode ser mais desafiador do que você imaginava, mas ainda é possível. Tenha atenção ao processo, trabalhe as questões emocionais de ambos e estejam atentos às necessidades um do outro, assim ninguém ficará sobrecarregado ou se sentirá invalidado. Morar fora é uma delícia, quando bem pensado e organizado, aproveite a jornada. Ficar no exterior precisa ser uma decisão do casal.

*Aqueles que possuem algum tipo de transtorno psicológico devem ponderar as palavras contidas neste texto e compartilhar com o respectivo psicoterapeuta as reverberações geradas após a leitura. 

Entenda que nem tudo fora do Brasil é melhor do que a sua realidade atual.

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*Ouça também o Podcast Partiu Morar Fora, com Amanda Corrêa e Claudinho Abdo:

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Vitor Luz possui formação em Jornalismo e Psicologia e ao longo da sua trajetória profissional pode se dedicar à busca de novos conhecimentos e fez uma formação em Inner Vision, Programação Neurolinguística – PNL e Certificação Internacional em Master Coaching Mentoring e Holomentoring – ISOR. Atualmente mora na cidade do Porto, onde aprofunda seus estudos em psicologia em um Doutorado na Universidade do Porto, além de possuir especialização em Psicologia Intercultural, proporcionando um acolhimento ajustado às necessidades daqueles que moram no exterior. Ele realiza atendimentos exclusivamente online, com clientes espalhados pela América, Europa, Ásia e Oceania, acolhendo imigrantes e expatriados brasileiros que busquem ressignificar perdas e aprimorar suas formas de se relacionar consigo mesmo e com os outros.

1 comentário

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    Excelente texto, aconteceu comigo, hoje considero a decisão precipitada, mas serviu de muito aprendizado e crescimento individual e do casal, depois de um tratamento psicológico que consegui enxergar como as coisas são na realidade do dia a dia, estou me preparando para tentar essa aventura novamente.

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