Ser um casal imigrante tem seus sabores e dissabores, entenda como equalizar as diferenças. Se você quer ficar no exterior e seu parceiro não, é hora de acertar os pontos.
Só quem já morou fora por um tempo conhece os desafios de colocar o pé na estrada com ou sem pretensão de voltar. Se a jornada já é desafiadora quando estamos sozinhos, imagine quando estamos acompanhados e se você pensa que talvez essa realidade pode ser mais fácil, esse texto vai te ajudar a compreender que não.
Por vezes um dos integrantes do casal deseja permanecer no exterior, mas o outro (a) deseja retornar, e agora? Essa é uma realidade muito comum e precisamos usar de muita sabedoria para tomar as próximas decisões, afinal de contas é o relacionamento que pode estar em jogo. Então vamos comigo até o fim deste texto e que possamos pensar juntos nestas circunstâncias.
Eu quero ficar no exterior, mas ele (a) quer voltar e agora?
Se você ainda não colocou o pé na estrada e está naquela fase gostosa de planejar, planilhar, organizar e pensar em cada detalhe, certamente você está imaginando que tudo vai dar certo, que a maioria das coisas que deram errado para os outros serão diferentes com você e que você e o seu relacionamento vão viver a melhor fase da vida de vocês… Nesta fase não queremos que ninguém jogue água em nossos planos e tampouco que nos falem de problemas, afinal de contas a única coisa que queremos é morar fora!
É nesta altura que enxergamos, ouvimos e nos envolvemos em tudo aquilo que faz sentido para nós, descartando automaticamente aquelas realidades que podem nos fazer pensar duas vezes, não é mesmo? “Tudo vai dar certo, estamos juntos…”, “essa será a melhor fase que nosso relacionamento viverá…”, “viveremos dias incríveis, repletos de novidades e muito amor…”, “nada vai nos abalar, nos damos muito bem juntos…”.
Certamente você já usou alguma destas expressões, não foi?
Relacionamento no exterior: como planejar uma mudança em casal.
Imigrar a dois exige um cuidado duplo
Ser um casal imigrante exige uma atenção redobrada, cuidados especiais, um planejamento ainda mais estruturado e quer saber o motivo? Porque são dois mundos diferentes, duas personalidades, duas inteligências emocionais e duas expectativas. Se você acha que tudo isso pode ser simples, então vamos expandir nossa compreensão e visão sobre tudo isso. Quando ainda estamos no nosso país de origem estamos cercados de amigos, familiares, conforto, e de tudo aquilo que amamos e é especial para nós.
Até aqui tudo bem, tudo nos conformes, a realidade começa a ser alterada quando colocamos o pé no avião e deixamos toda essa atmosfera para trás, ou seja, o morar fora deixou de ser um sonho e virou uma realidade.
Deixamos de ser nativos e nos tornamos imigrantes em uma terra “desconhecida”, é como se atravessássemos um portal e nossa vida desse um duplo carpado e voltássemos a posição inicial, mas desta vez em um clima diferente, com pessoas diferentes, em uma cultura diferente e em um idioma completamente diferente.
Talvez neste momento você esteja pensando, “mas isso é tudo o que eu mais desejo viver, qual o problema nisso?”. Quando decidimos morar fora devemos separar um espaço em nossa mala para preenchermos com a nova cultura a qual desejamos viver, afinal de contas, se decidimos colocar o pé na estrada o objetivo era viver uma vida diferente, não é?
Quando foi que você deixou de se desafiar?
Quem cuida do seu bem-estar? Como fica sua realização?
Às vezes nos esquecemos disso e buscamos ter a vida que tínhamos, com os mesmos tipos de amigos, comendo as mesmas comidas, cheirando os mesmos cheiros, nos comportando da mesma maneira e esperando que todos à nossa volta percebam minhas expectativas e gentilmente as atendam.
Eis chegada a hora que as privações iniciais começam a surgir, nossos familiares estão do outro lado do oceano, nossos amigos não nos procuram com a mesma intensidade, não conhecemos nossos vizinhos, a saudade do nosso Pet aperta, a liberdade que tínhamos antes é reduzida dado o câmbio, e aos poucos começamos a nos sentir ansiosos, angustiados, tristes, amedrontados e por vezes desesperançados.
Com isso depositamos no nosso parceiro (a) a responsabilidade do nosso bem-estar, satisfação e felicidade, movimento esse altamente tóxico e pesado, pois ele ou ela também está vivenciando uma realidade parecida.
Estamos nos sentindo tão perdidos, tão confusos e tão desgastados, que nada mais a nossa volta tem sentido. O que antes era um sonho morar fora, constatamos que estamos presos em um verdadeiro pesadelo. Nada saiu conforme o esperado e desistir de tudo se tornou a alternativa mais sensata. “Basta, não aguento mais, não preciso passar por isso…”, esse é um pensamento que inunda nossa mente sem pedir permissão e licença.
O bicho pega quando um dos integrantes da relação se sente bem no novo país, bem empregado, com um bom salário, regularizado quanto as questões de visto, altamente aculturado, adaptado a grande maioria das coisas e encantado com tudo o que vê e sente. Parece que tudo é sensacional, tudo o que era ruim ficou para trás, até os perrengues da vida de imigrante viraram piada.
Morar fora exige autoresponsabilidade.
Está bom para mim, mas não para o outro (a)
O casal imigrante está junto para quase tudo, nos perrengues ou nas glórias, no studio ou em um apartamento com varanda, no verão ou no inverno, no colocar o pé na estrada para partir, mas e para o retornar para casa?
Esse é um dilema sério que acomete muitos casais a todo tempo ao redor do mundo, um está satisfeito e o outro completamente infeliz. Alguém consegue aproveitar cada dia, o outro não vê a hora de retornar.
Um quer vivenciar o presente e as novidades com muita intensidade, mas o outro se esforça para não enxergar beleza em nada. Como podemos equalizar essas diferenças? Afinal de contas, não desejamos ver o nosso parceiro (a) infeliz, insatisfeito, com depressão e sem ânimo, não é mesmo?
Quem é o egoísta da relação, aquele que pede para o outro ficar mesmo sabendo que ele (a) não quer ou aquele que pede para o outro (a) partir, ciente que não é isso que o outro (a) deseja? Compreendo que essa seja uma situação dramática e exige do casal imigrante que decidiu morar fora, muita sabedoria, maturidade, clareza e acima de tudo, autoconhecimento.
Não busque no exterior aquilo que só encontrará internamente.
Ficar no exterior ou voltar
Então aqui vão algumas dicas que te ajudarão a conduzir essa situação:
- Antes de expressar seu desejo de partir ou ficar no exterior, se retire para um local tranquilo, pacífico e que seja leve, reflita sobre suas razões e motivos.
- Será que você já tentou enxergar a vida por um outro prisma ou tudo está tão ruim assim?
- Ficar no exterior será bom para o futuro de vocês?
- O que te leva a crer que aquele que está ao seu lado precisa atender suas expectativas e simplesmente jogar tudo para o alto?
- Se você desejasse permanecer onde está, gostaria que alguém te pedisse para abrir mão disso?
- De que forma sua realidade pode ser alterada para que você encontre mais conforto e paz?
- Como anda sua flexibilidade e tolerância à frustração? Será que isso pode comprometer os seus planos e daquele que está ao seu lado?
- O que te leva a crer que a sua antiga vida existe e que pode continuar sendo “boa” hoje?
- Você deseja realmente regressar ou se o seu presente fosse diferente, você se sentiria melhor?
- Já tentou buscar ajuda psicológica e psiquiátrica? Por vezes esse suporte pode te ajudar a enxergar as coisas com clareza.
- Lembre-se que tirar férias pode te ajudar a voltar para casa e ter um gostinho de como as coisas estão, talvez essa experiência o ajude compreender melhor a forma como está se sentindo.
Portanto, imigrar a dois pode ser mais desafiador do que você imaginava, mas ainda é possível. Tenha atenção ao processo, trabalhe as questões emocionais de ambos e estejam atentos às necessidades um do outro, assim ninguém ficará sobrecarregado ou se sentirá invalidado. Morar fora é uma delícia, quando bem pensado e organizado, aproveite a jornada. Ficar no exterior precisa ser uma decisão do casal.
*Aqueles que possuem algum tipo de transtorno psicológico devem ponderar as palavras contidas neste texto e compartilhar com o respectivo psicoterapeuta as reverberações geradas após a leitura.
Entenda que nem tudo fora do Brasil é melhor do que a sua realidade atual.
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1 comentário
Excelente texto, aconteceu comigo, hoje considero a decisão precipitada, mas serviu de muito aprendizado e crescimento individual e do casal, depois de um tratamento psicológico que consegui enxergar como as coisas são na realidade do dia a dia, estou me preparando para tentar essa aventura novamente.