O desafio da gratidão fica mais intenso com o passar do tempo, principalmente quando moramos fora.
Escrevo este texto no dia do meu aniversário de 40 anos. É claro que é uma data importante na minha vida, mas que vai além da comemoração do meu nascimento. É que nestes dias que antecederam o meu aniversário, me peguei pensando muito na gratidão e no desafio que é se manter grato morando no exterior. Especialmente depois de tanto tempo!
O desafio da gratidão
Quando vamos morar fora, estamos motivados, assustados, ansiosos e dispostos a enfrentar o novo mesmo cheios de medo. No começo manter acesa a chama da gratidão é até fácil, pois como tudo é novo, é bem comum nos pegarmos agradecendo por tudo e por nada. É a vista diferente, o monumento que não conhecíamos, a cidade que nos acolhe, a nossa nova vida, é tudo tão legal.
Contudo, com o passar do tempo as dificuldades de se manter no exterior surgem. Os receios parecem não diminuir, os desafios se mostram cada vez mais intensos e, se chegar até aqui parecia difícil, continuar no outro lado do mundo é uma missão (quase) impossível. Desanimamos muitas vezes, a vida parece que teima em seguir outros rumos. Dá vontade de desistir.
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Os primeiros anos são mais fáceis
E não estou falando dos dois primeiros anos não. Aliás, manter a gratidão durante os primeiros 24 meses morando fora nem é tão complicado. Difícil mesmo é continuar grato depois de cinco, seis, sete, oito, nove anos.
Primeiro porque nos acostumamos ao “morar fora” e tudo isso deixa de ser uma novidade. Depois, porque vamos colecionando aniversários e a idade parece que traz uma coisa de culpa, de não estar suficientemente completo.
É aqui que o desafio da gratidão sobe de nível. Depois de passar por poucas e boas, depois de acumular muitas experiências, é difícil permanecermos gratos e ainda se surpreendendo com a vida em outro país. Então, na semana do meu aniversário de 40 anos me peguei em mais uma cobrança: será que estou conseguindo ser grato pela vida que tenho no exterior?
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A emoção ajuda a manter a gratidão
Pensei, pensei e pensei mais um pouco até concluir que sim. E acredito que se manter grato morando fora é o que me faz ainda enxerem os olhos d’água quando conheço uma cidade que não conhecia. É ser emocionadinho com o diferente, de se ajoelhar para Deus para agradecer pela vida e pela colheita. Não achar tudo normal nunca é, de certa forma, uma maneira de se manter grato, pelo menos no meu caso.
Morar fora é um grande desafio, viver em outro país me fez acreditar mais no meu potencial, mas acima de tudo de compreender as minhas fraquezas e agradecer pela(s) minha(s) força(s). Os dias têm sido intensos, os desafios se acumulam, mas a cada vitória, a cada dia vencido eu encontro maneiras de alimentar minha gratidão.
Sempre penso que ser grato nas horas boas é mais fácil do que nos momentos complicados, porém tenho certeza que encontrar a gratidão no meio de um turbilhão ajuda a fazer as coisas se acalmarem. É quando entendemos o processo e saímos do outro lado mais fortalecidos e convictos.
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O que muda aos 40 anos
A principal mudança é que a idade não traz somente rugas, cabelos brancos e dor nas costas, mas experiência. Completar 40 anos é um marco, uma oportunidade de aplicar todo o conhecimento prático que foi acumulado ao longo de quatro décadas. Mas também a chance que a vida dá de compreender que o que vale é o percurso e não a linha de chegada.
O fim todos nós já sabemos qual é, mas como passamos pela estrada da vida é o que conta. E morar em outro país me trouxe a possibilidade de viver intensamente, de ser presenteado e conseguir compilar muito tempo de vida em somente alguns anos. Viver fora do meu país me permitiu (e continua permitindo) acessar outros mundos, abrir portas que talvez eu nunca pudesse abrir.
E nem sempre foi fácil. Aliás, me arrisco a dizer que, na condição de ansioso extremo, tudo sempre foi muito intenso. E dessa cachoeira de intensidade, ao passar debaixo dela, saio do outro lado encharcado de gratidão. De ensinamentos que me fazem perceber como é valioso e importante saber aplicar, de maneira prática, a experiência adquirida. Ser grato faz da gente feliz, agradecer nos torna grandes, nos distingue de uma maioria que, por hábito, tem mania de reclamar.
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O desafio da gratidão: uma dica
Se eu pudesse dar uma dica para o seu percurso é: nunca deixe de agradecer. Quando o morar fora acontece porque queremos, agradecer é sempre a melhor escolha. Agradeça pelas oportunidades, pelos desafios, pelas pessoas que cruzaram o seu caminho, por aquelas que saíram (ou foram tiradas) dele, pelos “nãos”, pelos “sims”, pela sua coragem, perseverança, resiliência e força.
Sim, já disse e repito sem medo que morar fora é para todo mundo, só não é para qualquer um. E digo isso porque é muito mais fácil permanecer na zona de conforto do que enfrentar o novo. Das tantas coisas que eu aprendi nos meus 40 anos, com certeza o desafio da gratidão é uma das que mais me motivam.
Vá morar fora e aproveite a sua coragem. Não desista e tente, sempre que possível, agradecer por tudo o que está passando. Sei que não é fácil, mas tenho a impressão de que quando isso acontece, as dificuldades da vida diminuem e o que parecia impossível começa a se tornar realizável. E agradecer deve se tornar um hábito e eu pergunto: você já agradeceu pela sua vida hoje?
Leia também: Morar fora: desistir não está nos planos.
1 comentário
Que belíssimo texto sobre gratidão! Parabéns! Me peguei em reflexão sobre o tema, especialmente quando chegar a hora do filho tirar a carta de condução. Espero ter o amigo ao nosso lado pra nos lembrar de continuar agradecendo! 😁