Dia desses lembrei da minha infância e me peguei num dilema. Eu moro fora do Brasil há uns anos, mas na real nunca me senti “de fora”. Até porque como sai do Brasil diretamente para Portugal e os países são primos irmãos, mesmo estando longe de casa, eu sempre me senti em casa.
Os gringos
Lembrei da minha infância porque quando, no Verão, ia para a praia sempre via “os gringos”. Eu morava no interior de Santa Catarina e geralmente os argentinos (os gringos = quem vem de fora) aproveitavam as lindas praias do estado para veranear. E os estereótipos berravam, era o cabelo com aquele mullet, aquelas bermudas da Adidas justas da década de 1970, além dos carros antigos de farol amarelo entre outros costumes que eram tão diferentes da minha realidade.
Enfim, acredito que todos nós conseguimos encontrar um gringo, alguém “de fora” na multidão. E eu, na minha zona de conforto, achava interessante a convivência entre diferentes culturas, me interessava pelos costumes e me divertia jogando um futebol na areia no eterno clássico entre Brasil e Argentina.
Morar fora: excesso de ontem, excesso de hoje e excesso de amanhã.
Agora o gringo sou eu!
Bom, depois de voltar ao meu passado, aqui estamos. De Portugal, por conta de uma oportunidade profissional, eu vim para a Inglaterra. Aí sim eu senti que não era daqui. Não é por nada e as pessoas na Inglaterra são sensacionais (tanto quanto em Portugal), o país é extremamente interessante e está sendo uma experiência muito intensa.
Porém, é uma cultura TOTALMENTE DIFERENTE DA MINHA. Sim, é completamente diferente. Isso sem falar no clima que dá a impressão que São Pedro está de sacanagem girando o botãozinho do sol e da chuva de um lado para o outro só pela zoeira. E para deixar o cenário completo, eu vim de carro de Portugal (até escrevi sobre isso outro dia em como atravessar o Eurotúnel de carro).
livro “Morar Fora: sentimentos de quem decidiu partir”
Mas Cláudio, por que o fato de você ter ido de carro de Portugal para a Inglaterra importa? Eu respondo. Importa porque o volante do meu carro é na esquerda e na Inglaterra todos os carros tem volante na direita. Ou seja, eu estou “errado” e dirigindo na contramão. E toda vez que eu entro no meu carro e dirijo eu me sinto O GRINGO MASTER PLUS ULTRA POWER.
Veja como viajar com cachorro para Inglaterra, como foi minha experiência.
Sim. Chega a ser bizarro e as pessoas, inevitavelmente, olham e percebem que eu não sou daqui e me cai a ficha de que agora o gringo sou eu. Dia desses uma vizinha me viu entrando no carro e disse: “meu Deus, como você consegue dirigir desse lado? Agora que eu vi que você está do lado errado do carro!”. E o mais interessante nisso tudo é que eu sou visto na multidão como o cara que não é daqui. Óbvio e estranho.
E é tão óbvio que começa bem de longe pelo fato de eu estar “do lado errado do carro”, pela roupa que eu uso (geralmente para um frio maior do que o que está porque eu nunca sei o que passa na cabeça do São Pedro). Continua pelo chimarrão que eu costumo tomar todos os dias em algum parque ou na frente da minha casa e que os ingleses não fazem ideia do que é e, quando eles chegam mais perto, pela língua que eu falo e que eles confundem até com holandês (sim, no supermercado o atendente perguntou se eu estava falando holandês com a minha esposa e filha).
Morar fora: se a gente não voltar.
E acho, sinceramente, que a graça nisso tudo (de morar fora) está justamente na aula de empatia que eu vivo todos os dias onde, por vezes eu sou o professor, mas na maioria das vezes eu sou o aluno. Para finalizar eu acho que ninguém é de lugar nenhum, que todo mundo é do mundo todo e que o nosso repertório fica cada vez mais interessante justamente por conta disso.
Para resumir a história, é um tanto estranho estar aqui, mas não ser daqui. Mas morar fora é, de certa maneira, cair de paraquedas em um contexto que não é o nosso, é conviver com as diferenças, é abraçar novas culturas, é aceitar o outro especialmente porque, no meu caso, o outro, o diferente, o “de fora”, sou eu.
Morar fora: a gente aprende a ser daqui.
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