Geralmente ouvimos e dizemos que viajar é se abrir para o mundo e é mesmo. Acredito piamente que quanto mais distante da nossa ilha conseguimos ficar, mais podemos vê-la em todas as suas diferentes dimensões. Acontece que todo esse processo não é algo simples, muito pelo contrário. Não basta viajar, não adianta ter oportunidades apenas. Digo isso porque se nós não quisermos a viagem não vai servir para nada e o mesmo vale para as oportunidades.
A gente precisa querer
Talvez você conheça aquela pessoa que teve uma oportunidade profissional e recebeu um convite para trabalhar na Europa, nos Estados Unidos ou na China, por exemplo, mas que está odiando. Não me cabe julgar porque os motivos podem ser infinitos, mas como disse antes: somente a oportunidade não basta. Não é um processo retilíneo e simples, a vida não é uma linha reta mesmo que a gente teime em evitar suas curvas.livro “Morar Fora: sentimentos de quem decidiu partir”
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Oportunidade ajuda, mas não é tudo
Ter a oportunidade não basta. Não basta porque você pode ter a oportunidade de, caso seja um astronauta, trabalhar na NASA e odiar. Não pelo trabalho em si, mas pelo contexto em que a oportunidade acontece. Por exemplo, para você trabalhar como astronauta na NASA você precisará viver nos Estados Unidos, terá que experimentar novos sabores, cheiros, língua, clima, costumes e culturas. “Ah, mas isso é o de menos!” – você pode pensar. E eu lhe respondo: SIM, é o de menos se você quiser que seja.
Se você não quiser, nada vai servir
Ok que, enquanto seres humanos, somos eternamente insatisfeitos e acho isso até certo ponto interessante. Contudo, morando fora fui me deparando com pessoas complicadas e que, via de regra, não se sentem felizes com nada. Não há conquista, por maior que seja, capaz de trazer satisfação. É mais ou menos quando estamos com vontade de comer alguma coisa, caminhamos até a geladeira e quando abrimos a porta não encontramos nada que seja suficiente para matar nossa vontade. Não é fome, é vontade. Ah, e pouco importa se fomos às compras e a geladeira está lotada.
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No fundo no fundo sabemos que é chatice nossa e que, por mais que tenhamos a geladeira cheia, nada que ali está será capaz de suprir a nossa insatisfação natural. É o nosso lado bicho que teima em sobressair e o resumo é: não queremos nada que está ali, nada daquilo serve. Como sou fã de analogias (mesmo que sejam esdrúxulas e peço desculpas), morar fora é a geladeira lotada e cabe a nós a decisão de matarmos a nossa vontade ou não.
De um limão, limonada
Na escola cresci ouvindo que não era é o lugar que fazia o aluno e acho que aquilo até hoje ainda me diz muito. Resumo com o tal do “se quisermos sim, se não quisermos não”. Excluindo as variáveis incontroláveis da vida (morte, acidentes, problemas de saúde e etc.), podemos fazer do limão uma limonada se assim desejarmos. Não estou dizendo que é fácil e nem sendo apologista de que a vida no exterior é moleza e etc., só acho mesmo, especialmente depois de olhar para a grama do vizinho, que ter oportunidade ajuda, mas não é tudo. Não mesmo.
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Ainda bem que somos diferentes
Acredito que seja o meu mantra ultimamente e quase todos os dias agradeço de sermos todos tão diferentes. O que é para mim não é para você e ainda bem. Digo isso porque costumo ser um entusiasta da vida e, otimista que sou, tento sempre ver o lado positivo das coisas. Apesar de ainda achar que eu levo a vida muito a sério, lidar com pessoas pessimistas e negativas está me fazendo perceber que é preferível ser sério em excesso do que pessimista, é muito melhor ver o lado bom das coisas do que uma pessoa negativa convicta e à priori.
Você quer?
Não acredite que mudar é fácil, porque isso é mentira. Mudar é sempre difícil e, imagine você, que quando o simples sistema do celular atualiza a gente já fica um pouco perdido, agora pensa quando a gente muda de cidade, de estado ou de país. Pois é, mudar traz mudanças e nós não fomos treinados para a dúvida, fomos catequizados para o garantido e direcionados para o caminho da certeza. Garantia e certeza são palavras inexistentes na vida de quem mora fora.
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Porém, e se você quiser, morar fora será a maior experiência da sua vida. Será onde você vai crescer em apenas um ano o que levaria 100 anos na sua vida “normal” lá na sua zona de conforto. Será o momento em que você fará amigos para sempre, onde poderá comer comidas desconhecidas, sentir novos cheiros, congelar os dedos na neve, quem sabe até ter um filho num país diferente daquele que você nasceu, dirigir no lado direito e conviver com gente distinta.
A pergunta que eu faço é: você quer? Isso tudo que eu disse só vai acontecer se você quiser. Agora (e nada contra), se você tiver medo do novo, gostar da sua ilha como ninguém, preferir o certo ao invés do duvidoso, fique exatamente onde você está. Morar fora é para todo mundo, mas não é para qualquer um. Se você quiser, será a coisa mais massa da sua existência, mas se você não quiser nem um emprego na NASA vai ser capaz de lhe fazer feliz, pode acreditar. Quando a gente não quer nem a NASA salva, nem ela!